Da safra australiana, Gabriella Cohen vem de Melbourne e lançou em 2016 seu primeiro disco solo. Antes ela tocava na desconhecida Furrs. “Full Closure and No Details” (algo como “Introspecção Total e Nenhum Detalhe”) foi gravado em 10 dias com apenas dois microfones. Ponto alto de imediato: a voz gostosa de Gabriella, meio Nico, meio Mazzy Star; e o clima pop soul anos 60.

O disco foi lançado pela pequena Remote Control na Austrália e pela excelente Captured Tracks (casa da Molly Burch e de outro Cohen, o Chris) nos Estados Unidos e traz 10 músicas. É mais lentinho que o da Cherry Glazer, então se você estiver com preguiça, comece pela 3ª faixa do disco, “Sever the Walls”. Um rockinho pá-pá-pá de facílima digestão.

Em seus 40 minutos, o disco é mais lentinho do que alegre, então cabe bem para aquelas tardes chuvosas, principalmente na fossa. O tema das letras é (fim de) relacionamento: “this could be the last time we get together” canta Gabriella em “I Don´t Feel So Alive” antes de engatar num crescendo à la Jesus & Mary Chain fase “Darklands”.

Um certo ar desleixado, à la Dinosaur Jr, inclusive com solos que agradariam J. Mascis, aparecem aqui e ali. “Yesterday” começa assim mas segue em slow motion falando sobre um amor passado.

Por desleixado eu não quero dizer ruim, mas apenas uma sinceridade, uma despreocupação com a pose. Tipo assim, sempre achei que as bandas “indie” do Rio de Janeiro se preocupavam mais com a “verdade” da música do que com o visual ou com as referências, ao contrário de suas pares mais ao Sul (SP, PR, RS – SC sempre foi slack). A Pelvs ia pro show de bermuda e fazia um showzão. A Gabriella tem isso, deu pra entender? “Piano Song” tem piano, “Dream Song” é etérea, sem bateria, quase acústica, quase um Durutti Column – como deve ser, entendeu?

“Feelin´Fine” é uma surf music com vocoder na voz mas não é porque ser retrô tá na moda, parece mais uma timidez do que está sendo dito na letra. A balada “This Could Be Love” traz um dueto com uma voz masculina que eu não consegui descobrir quem é e pode emocionar fãs de Nick Cave e Leonard Cohen.  E o disco termina com “Alien Anthem”, uma anti música com um jeitão meio das 4-Track demos da PJ Harvey.

Uma grata descoberta do ano passado e um disquinho suave e honesto.