Desde 2014 eu alimento um hábito compulsivo: visitar diariamente as redes sociais das minhas gravadoras e selos favoritos. Descobri que não existe outro canal melhor para você se atualizar: esqueçam os tais sites e blogs influenciadores, a maioria das fontes de boa música dos anos 80 e 90, as gravadoras e selos indies, continuam firmes e fortes.
(Para ler ouvindo. Siga o perfil do mmrecords para saber das novidades. A ordem das músicas na playlist não coincide com a ordem dos 10 melhores)
Assinando as páginas oficiais no Facebook, Spotify e principalmente no YouTube de Captured Tracks, PIAS, K, Sub Pop, Merge, Matador, Hardly Art, Heavenly, Slumberland, Domino, Tapete, Bella Union, Labrador, Kanine, Polyvinyl, Secretly Canadian, Mute, 4AD e usando a ferramenta de clipping de notícias feedly, você acaba inundado de lançamentos todos os dias…
Em 2014 eu comecei a criar playlists para ouvir todos os lançamentos como dever de casa. Em 2016 a tarefa é gigantesca… já perdi a conta porque apaguei alguns discos ruins. E ainda falta ouvir coisas como Aloha, Angel Olsen, Bat For Lashes, Big Thief, Brendan Canning, Britta Phillips, Cass McCombs, Elephant Stone, Half Japanese, Hidden Cameras, Leonard Cohen, Lou Barlow, Nick Cave & The Bad Seeds, of Montreal, On Dead Waves, Preoccupations, Primal Scream, Seratones, Slingshot Dakota, Suede, Teen Suicide, Thurston Moore, Tennis, A Tribe Called Quest, Underworld, Warpaint, Weaves, Wedding Present, Weyes Blood, Wilco e uma pá de bandas que eu nunca ouvi falar antes. Isso sem contar os discos brasileiros, ufa!
Mas então, por que resolvi passar a régua se ainda tem muito disco para ouvir? Porque, na minha opinião, nada vai superar estes 11 discos listados ai embaixo no quesito melhor álbum internacional de 2016. Ou seja, essa lista é uma média do que um ser humano mais ou menos normal consegue assimilar durante um ano.
10 – Damien Jurado – Visions of Us on the Land (Secretly Canadian)
Este é o 15º disco numa carreira que já tem 16 discos lançados, sendo dois no ano de 2016. Apesar de nascido em Seattle, vivido o pós-grunge e ter inclusive discos lançados pela Sub Pop, Jurado é um cantor folk na linha de Big Star e Nick Drake. Um disco para o isolamento.
09 – Iggy Pop – Post Pop Depression (Caroline)
Eu havia passado batido por este disco, lançado no começo de 2016. Não sei porquê mas a carreira solo do Stooge nunca me chamou atenção. Sempre achei tudo muito pop. Mas, por causa do título (a depressão pós-pop) começei a ouvir. E é um disco agradabilíssimo. Quer ler mais? Veja o que eu escrevi aqui
08 – Amber Arcades – Fading Lines (Heavenly / PIAS)
A holandesa Annelotte de Graaf se mudou para Nova Iorque, onde trabalha como advogada na ONU, em casos de crimes de guerra. Como Amber Arcades, ela financiou sozinha seu álbum de estreia, usando economias de toda sua juventude. Ainda bem que a agradável mistura de mantras eletrônicos do Suicide, melodias doces do Stereolab e um climão de Broadcast foram bem recebidos pela gravadora Heavenly que resolveu licenciar e promover o disco. Tente escutar as músicas primeiro no YouTube, com a ajuda visual dos clipes de Annelotte.
07 – The Goon Sax – Up to Anything (Chapter Music)
Trio de Brisbane, Austrália, lançou seu disco de estreia em 2016. Louis Forster, 17 anos, (o rapaz do meio na foto da capa) é filho de ninguém menos que Robert Forster, do Go Betweens. Letras sobre inaptidão, namoros, solidão e esquisitices dão o tom. O instrumental lembra Pastels e Beat Happening, e a voz, graças a Deus, lembra Go Betweens. O que poderia ser melhor?
06 – DIIV – Is The Is Are (Captured Tracks)
Empatado em 6º lugar, o segundo álbum da molecada do Brooklyn, filhos legítimos do Chapterhouse. Apesar de que o clássico talvez seja o primeiro, “Oshin” e não este álbum, “Is The Is Are” ainda assim é um belo disco, com suas camadas de guitarras e a voz Zachary Cole Smith um pouco mais aparente que no primeiro disco.
06 – Teenage Fanclub – Here (PeMa)
Assim como na resenha que escrevi sobre o disco novo do Pixies, esperar por um disco novo do Teenage Fanclub causa mixed emotions… Mas, ao contrário dos americanos, Love, Blake, McDonald e McGinley mantiveram um padrão e parecem continuar a evoluir dentro de suas estreitas e óbvias influências. Mas ei, quem aqui odeia os Ramones por serem repetitivos? “Here” é o 10º álbum da carreira e tem músicas para todas as fases do TFC: minha favorita é a que está na playlist acima, bem “A Catholic Educaction”.
05 – The Radio Dept. – Running Out of Love (Labrador)
Entre os medalhões que lançaram novos discos em 2016, o combo sueco volta à ativa via Labrador depois de 6 anos desde “Clinging to a Scheme”. Um pouco mais eletrônico que os álbuns anteriores, “Running out of Love” vem sendo apresentado pela banda como um disco de protesto, mais à esquerda. Vale ouvir lendo as letras. Amamos!
04 – Minor Victories – Minor Victories (PIAS)
Disco é figurinha carimbada em quase todas as listas de melhores do ano, dos amiguinhos shoegazers, aos amiguinhos post, aos amiguinhos metal. Super banda formada por Stuart Braithwaite (Mogwai), Rachel Goswell (Slowdive) e Justin Lockey (Editors) lançou seu debut em 2016, com todos ingredientes de suas bandas mais famosas. Destaque para a versão de “For You Always” de Sun Kil Moon.
03 – Selector Dub Narcotic – This Party Is Just Getting Started (K Records)
Selector Dub Narcotic também é conhecido como Calvin Johnson, dono da K Records e ex integrante do Beat Happening. Precisa dizer mais? O Dub Narcotic Sound System, além de ser o nome do estúdio de Johnson, também é uma das inúmeras bandas que ele participa. Mas “This Party is…” é o primeiro álbum de Johnson como Selector Dub Narcotic. Distante do lo-fi e próximo do funk, disco e dub, as 14 faixas do disco podem colocar fogo em qualquer festinha. Destaque para algumas letras como “All for the Sake of Rhymin'” que lembra Beastie Boys da época “License to Ill”.
02 – Chris Cohen – As If Apart (Captured Tracks)
Segundo disco solo do ex-guitarrista do Deerhoof e músico acompanhante numa dezena de outros projetos legais. “As If Apart” tem 10 músicas, um climinha jazz, lounge music, com pianos, levadas de vassourinha na caixa e o vocal à la Nick Drake. (Chris era o moleque protagonista do videoclipe “Cinderella’s Big Score” do Sonic Youth, de 1991)
01 – Whitney – Light Upon the Lake
Sempre que você digita Whitney no Google ou Spotify, quem logo aparece? Whitney Houston, claro! Mas Max Kakacek (guitarrista, ex Smith Westerns) e Julien Ehrlich (baterista, ex Unknown Mortal Orchestra) se juntaram em 2015 para redefinir o que Whitney significa para o mundo da música. “Light Upon the Lake” é o álbum de estreia da banda de Chicago, lançado pelo selo Secretly Canadian, com 30 minutos de uma delicada mistura de folk rock com soul, com destaque absoluto para a voz de Kakacek. Seu novo disco preferido das manhãs de domingo e disparado o melhor de 2016.
Menções honrosas: Pixies – “Head Carrier” (PIAS), Mass Gothic – “Mass Gothic” (Sub Pop), Nada Surf – “You Know Who You Are” (Inker), Frankie Cosmos – “Next Thing”, Oscar – “Cut and Paste” (PIAS), The Coathangers – Nosebleed Weekend (Suicide Squeeze), The Avalanches – “Wildflower” (Universal), Peter, Bjorn & John – “Breaking Point” (PBJ Music), Tindersticks – “The Waiting Room” (City Slang), Tuff Love – “Resort” (Lost Map), Zen Mantra – “Zen Mantra” (Flying Nun), Car Seat Headrest – “Teens of Denial” (Matador), Dinosaur Jr – “Give a Glimpse of What Yer Not (Jagjaguwar), The Divine Comedy – “Foreverland” (Divine Comedy records)
(Ah, o dever de casa para ouvir os melhores de 2017 já começou e conta com 28 músicas por enquanto)