Eu sou viciado em documentários. Assisto até aos de bandas que eu não gosto, tipo aquele do Rush. Por isso, quando soube que o Jim Jarmusch estava fazendo “Gimme Danger“, sobre a história do Stooges, fiquei empolgado.
Documentários musicais podem ser perigosos. Não são raras as vezes em que o diretor incorre no erro de, em vez de contar a história de pessoas e suas relações dentro das bandas, deixam aflorar a impressão do fã que está atrás das câmeras, institucionalizando a chapa branca.
E, por mais paradoxal que seja, “Gimme Danger” é um filme de fã e por isso mesmo é foda. Por quê?
Porque Jim Jarmusch é um fã daqueles como se deve ser. Se interessa pelas músicas, pelos personagens e pelas merdas que eles fizeram ao longo da carreira. O foco dele é contar, sim, como os Stooges são imprescindíveis pra você que gosta de Arctic Monkeys e Strokes. Que sem eles não teríamos punk, hardcore e o diabo. Mas também mostrar de maneira visceral as falhas de Iggy Pop e cia.
Aliás, como não poderia deixar de ser, “Gimme Danger” é centrado na figura do vocalista. Além de ser o único integrante original vivo, Iggy é o fio condutor da banda e através dele que se tem essas fraturas tão expostas. Mas não espere escatologia, o Iggy retalhado em palco e cheio de mil substâncias tóxicas na cabeça. Isso seria fazer do filme um zoológico e, ao contrário, Jarmusch passa por essas questões com muita elegância.
No fim, não deixa de ser um filme triste, pelas circunstâncias que se abateram sobre a banda e também por se ter a total (no meu caso, viu?) desesperança de que o rock seja hoje tão essencial na vida do planeta quanto foram Iggy, os Ashetons, Dave Alexander e James Williamson.
Já escutou o disco mais recente do Iggy Pop? Não, leia aqui pra se entusiasmar
Existe no cinema atual um diretor mais adequado do que Jim Jarmusch para fazer um documentário sobre os Stooges, banda pioneira do Iggy Pop?