Molly Burch é uma das grandes candidatas a melhor disco do ano. Já havia dito isso aqui (e mais uma vez agradeço à Marina Morena por ter me apresentado à Molly). “Please Be Mine” já abre com clima esfumaçado e batida copiada de “Be My Babe” das Ronettes (talvez o “tum tum/tum” mais copiado da história do pop e é usado várias vezes neste disco), a voz encorpada e doce de Molly te ganha nas primeiras frases. É arrepio na espinha com a mocinha cantando “you, you got me, downhearted” acompanhada de belos dedilhados de guitarra à la Roy Orbinson.
Molly Burch nasceu em L.A., filha de um roteirista e produtor com uma diretora de casting de Hollywood, ela foi estudar “Jazz Vocal Performance” na Universidade da Carolina do Norte, onde passou a juventude aperfeiçoando sua voz inspirada por Billie Holiday e Nina Simone. Lá, conheceu o guitarrista e seu atual companheiro Dailey Toliver. Atrás de um ambiente musical mais movimentado, Molly se mudou sozinha para Austin, no Texas.
A letras são para corações partidos, como “Please Forgive Me”, “Loneliest Heart”, “Please Be Mine”. A explicação de Molly, dada em entrevistas à blogs estrangeiros, é que a maioria das músicas foram escritas no período em que teve que ficar separada de Toliver. “Muito do álbum é sobre eu me mudar para Austin, ir me aclimatando e depois estar de novo com Toliver“. Não fica claro se houve uma briga nessa separação, mas a faixa título se parece muito com um pedido de conciliação.
Com a coleção de 10 músicas prontas, Burch e Toliver montaram uma banda com o baixista Caity Shaffer e o baterista Ignacio Guerrero. Informações da gravadora dizem quem Burch gravou todas as faixas e vocais em um dia, com pós produção e finalização mínimas. Isso traz ao álbum uma nostalgia acolhedora. A simplicidade dos arranjos encaixa perfeitamente na voz de Molly, escapando de diversões de estúdio; uma Feist sem exageros de produção.
“Try” é a música mais pop, com vocal sussurado e refrão que busca animação no backing duplicado de Molly, subindo para uma levada de cabaré nos vocais, boa para dançar juntinho. Aqui mais uma vez transparece o esmero folk dos arranjos de guitarra, que não dá pra saber se são de Molly ou de Toliver.
“Torn to Pieces” tem um teclado discreto ao final que os brasileiros poderão associar diretamente às músicas românticas de Roberto Carlos, tocados com calor no coração por Lafayette. “Not Today” é a única música do álbum onde Molly tem acompanhamento vocal, provavelmente de Toliver, remetendo às baladas de Four Tops e Sam Cooke dos anos 60.
É um disco perfeito para aquelas tardes chuvosas de dor de cotovelo se você foi chutado; ou se morre de saudades de alguém. Também serve para escutar juntinho olhando para a paisagem na janela.
Ouça Molly Burch
Californiana fã de Nina Simone se muda para o Texas e grava belo disco dor de cotovelo para fãs de Mazzy Star