A australiana Hatchie está rodando o mundo numa turnê promocional: em fevereiro e março fez alguns shows nos EUA, participou do South By Southwest, e agora está na Inglaterra, tocando em várias cidades. A correria parece justificada, existe um potencial pop nas quatro canções de Harriette Pilbeam. Uma delas, a mais promissora “Sure” ganhou até um remix de Robin Guthrie (Cocteau Twins).
Quinta feira passada, 10 de maio, a loirinha de 25 anos aportou no pub aqui perto, o Shacklewell Arms, local de vários shows gratuitos. Óbvio que fui um dos primeiros a reservar ingresso (sim, é gratuito mas você pode tentar garantir sua entrada – uma espécie de nome na lista. Mas você tem que chegar cedo, porque se estiver cheio, já era, mesmo com ingressos).
O dia estava longo e chegamos tarde. Fiquei achando que não conseguiria entrar porque a impressão é que a menina está hypada e um show de graça, teria fila na porta né? O Shacklewell deve comportar umas 200 pessoas mas estava meia boca, devia ter umas 100 pessoas. Perdemos o show de abertura do Death of Pop, infelizmente.
Pontualmente às 21:30, Harriette subiu ao palco com seu baixo, no centro do palco, uma imagem poderosa. Com ela, dois guitarristas e um baterista. O show já começa maltratando, com o hit que a catapultou de Brisbane para o Mundo: “Try”. Em seguida tocou “Sugar & Spice”, faixa-título do EP com lançamento marcado para o próximo dia 25 de maio. Nesse momento o pequeno espaço já estava lotado e Harriette tinha ganho o público.
Existe um elemento extremamente pop na voz de Harriette que chega a ser enjoativo, um jeito de alongar os refrões, uma dramaticidade de Natalie Imbruglia que embrulha o estômago (desculpem, sempre quis fazer esse trocadilho). Mas ao vivo a banda se garante, é como voltar no tempo e assistir The Sundays, ou um Cocteau Twins mais agitado, ou Lush. É impressionante a semelhança com essas bandas que estavam na ativa quando Harriette ainda estava nascendo.
Em entrevista ao site Pitchfork, ela disse que se interessou por shoegazer e dream pop porque não conseguia entender como as bandas criavam estes sons: “Não importa sobre o que são as letras, disse ela à Pitchfork, mas ainda assim os vocais são a parte mais bonita da música“. Espero que Harriette escute mais destas vocalistas então. A Tati (que estava comigo no show) disse, com razão, que os vocais a lembraram os de “Kiss Me” do Sixpence None The Richer. Entre um Sixpence e um Cocteau Twins, existe uma Liz Fraser de diferença.
Um dos guitarristas usa apenas um violão com o flanger ligado o tempo todo. Absurdamente afinada, a banda não errou em nenhum momento. A terceira música eu não conhecia e também não foi anunciada. Depois, a única balada, “Bad Guy”, mais uma letra bobinha, como todas, e “Sleep”, do vídeo acima. Em seguida veio “Sure”, a música mais bacana da noite. Tinha cara de ápice mas era apenas a sexta música. Só que não teve conversa, a música acabou e o show também.
Não ficou muito claro se havia alguma restrição de horário ou se a banda realmente não tinha nada mais ensaiado, mas Hatchie saiu do palco sem muita cerimônia, fazendo até sinal de “não” para as pessoas na plateia que pediam mais. Deixou uma impressão ruim: o show parece ter sido curto porque era de graça. Mas ué, a ideia não é promover a banda? Sei lá, o sorriso forçado e a saída rápida do palco me deixaram com a sensação de que Harriette está incomodada com “trabalho” e parece almejar logo seu espaço de Sixpence None the Richer. O que seria uma pena.
obs.: Some ao clima geral deste texto o fato da assessoria da Hatchie ter negado uma entrevista para a gente “por motivo de falta de tempo”. Após o show, como todo fã eu estava com compacto na mão para ela assinar. Dai deu para ouvir ela falando que ficaria mais cinco dias em Londres.
:/
A impressão de “não falamos com fanzines” deixou o filme dela um pouco mais chamuscado.
Escute se
Show de graça em Londres da australiana Hatchie poderia ter sido antológico. Mas ver uma estrela pop nascer pode ser frustrante se você gosta muito de música.