O novo álbum da dupla Victoria Legrand e Alex Scally saiu sexta feira passada e se chama “7”, título direto para organizar o lançamento dentro da discografia da banda. Mas o que mais chamou atenção foi a participação do ex Spacemen 3, Peter Kember, ou Sonic Boom para os íntimos. Ouvi o disco inteiro procurando a mão do Peter e ela está lá, luxuosa.
Para quem nunca ouvi falar de Spacemen 3 ou do Sonic Boom, estas são duas das melhores músicas que ele lançou em sua carreira como guitarrista e vocalista no Spacemen 3 (onde era parceiro de Jason Pierce, do Spiritualized) e depois solo, quando lançou discos como Spectrum.
Remete a Suicide, 13th Floor Elevators, Blue Magoos, talvez um pouco de Kraut Rock, ou seja, nada de novo mas ainda assim excepcional. É mais ou menos o mesmo que se sente ao ouvir o “7” do Beach House. Um Spacemen 3 desacelerado, menos experimental.
“Dark Spring” abre o disco com uma falsa promessa de um disco agitado. Mas já na música seguinte o tempo cai bastante em “Pay No Mind”. A voz de Legrand continua aconchegante, suave, no melhor estilo Mazzy Star. Depois “Lemon Glow” é um Beach House clássico, lento mas ritmado, uma trilha sonora de bons momentos, exatamente o que em meados dos anos 2000 se convencionou chamar de chill-wave.
Até ai a mão do ex-Spacemen 3 não aparece tanto mas a partir de “Drunk in LA” começa a ficar aparente. A melodia mântrica da voz desliza sobre uma bateria eletrônica seca, marcada, que traz um ar pesado, triste, quase uma “Losing Touch With My Mind” do Spacemen 3. A banda conta que dispensou o papel de um produtor clássico, que contou com a ajuda do baterista de seus shows desde 2016, James Barone, além de Sonic Boom. A presença deles fica clara em”Dive”, que começa com um farfisa, marca registrada das canções de Sonic Boom, até entrar num beat mais dançante, de novo muito parecido com “How You Satisfy Me”, do clipe acima. Junto com “Dark Spring”, minha favoritas do disco.
“Black Car” também segue na linha chill, com uma percussão de um som parecido com um xilofone só que de vidro, mais um destes detalhes que as músicas do Beach House costumam trazer e que fazem bonito como trilha sonora de fundo para nossas reuniões de amigos trintões e quarentões.
Legrand e Scally decidiram fugir do que eles chamam de lado financeiro da música, construindo seu próprio estúdio em casa para evitar a preocupação com os custos de gravação. Apesar do modus operandi diferente, “Lose Your Smile” poderia estar em “Teen Dream” (3º álbum e até agora o melhor da carreira do Beach House na minha opinião) ao lado de “Take Care”. “Woo” é mais uma com a marca de Sonic Boom: a mesma bateria eletrônica seca, marcada, sobre um redemoinho de efeitos eletrônicos ao fundo.
O disco termina com “Girl of the Year” e “Last Ride”, duas faixas mais lentas, com jeitão de Mazzy Star, Dead Can Dance e Cocteau Twins somados ao vocal grave, às vezes soturno de Legrand. No ensaio que o próprio Beach House escreveu sobre “7”, eles falam que o tom das letras e das músicas é aquele da “empatia e amor que crescem depois de um trauma coletivo, aquele lugar onde as pessoas percebem que devem aceitar em vez de negar“.
No mesmo ensaio, Legrand e Scally comentam como 2016 e 2017 têm sido anos estranhos, pesados, politicamente falando. E é incrível perceber que existem pessoas que ainda acham que estas bandas que gostamos são apolíticas, como se fossem seres alienados da espiral reacionária que o mundo se encontra. “7” embora não verbalize tanto esse incômodo, pode ser uma trilha sonora para lamber as feridas e amar ao próximo.
Escute "7" do Beach House
Sétimo disco da dupla de Baltimore Beach House, com produção do ex Spacemen 3 Peter Kember, a.k.a. Sonic Boom