A (curiosa) complexidade do novo álbum do Flaming Lips
Um dia, eu já detestei essa banda. Imagina meus 17 anos, conhecendo tudo sobre o grunge, Seattle, camisa flanelada xadrez e All Stars, acostumado com aquela vertente pop que diziam que era a fusão de grunge com punk e me vem essa banda que todo mundo adorava e eu não entendia nada do que eles faziam, quando eles estavam no auge com o “Transmissions from the Satellite Heart”… Bodiei, LÓGICO!
Depois de longos anos, ainda continuo com a impressão de que a banda segue esse caminho de confundir o público – com relação ao que fazem – mas, atualmente, é uma das minhas bandas favoritas, daquelas que você quer ter todos os discos na prateleira da estante. O impulso para a virada do jogo? Ter paciência! Como um amigo bem definiu, quando vi forçado a apresentação deles no Claro que é Rock, em 2006.
Desde então, gosto a cada vez que eles se aprofundam na desconstrução sonora e todas suas estranhezas. Em “Oczy Mlody” (2017) mais do que nunca, as viagens pesadas de ácido, constelações e vazio existencial os estabelecem como uma nova banda. Claro que houve um processo de experimentalismos a partir de “Zaireeka” (1997) para chegar nesse conceito atual, que torna a música um objeto palpável e visto. Para tanto, eles reestruturaram as artes dos discos, capricharam nas cores e nos efeitos especiais dos videoclipes e vêm dando uma concepção a cada nova obra.
Sobre as faixas, elas são bem minimalistas. Muitos beats e efeitos que reverberam e seguem um enredo futurista, que é estimulado no ouvinte. Músicas totalmente apropriadas para trilha sonoras de cinema e televisão. Por exemplo, acho que encaixa bem numa edição de Globo Repórter de temas científicos e em alguma instalação ou performances de galerias de arte. Também, não descarto a condução de uma trama no teatro ou ópera.
“Oczy Mlody” (palavra polonesa que significa em livre tradução “olhos da juventude”) ainda está longe de ser uma obra completa mas as tentativas da banda vem trilhando bem os caminhos para que ela, minimamente, se alinhe perfeitamente com todo o conjunto artístico que a compõe.
E uma dica importante: estar atento aos acontecimentos do mundo e tomar um chá durante a apreciação da obra. Yoga e meditação também são bem vindos. 😉
Ouça Oczy Mlody se
Décimo quarto álbum de estúdio dos doidões de Oklahoma, na visão do agora convertido Alex Santos.