Ouvir “Sleepless” do Spinning Coin, se apaixonar, sair buscando mais da banda, achar coisas sensacionais e, aos poucos, descobrir que eles já abriram shows do Real Estate e Teenage Fanclub, que eles lançaram seu álbum de estreia pelo lendário selo Geographic (de Stephen Pastel) e que esse disco foi produzido por Edwyn Collins é muita emoção para uma tarde de primavera.
É uma daquelas bandas que ninguém conhece e que viram suas favoritas pra vida.
Formada em Glasgow, Escócia, em 2014 por Sean Armstrong (voz, guitarra), Cal Donnelly (baixo), Jack Mellin (voz, guitarra) e Chris White (bateria), o quarteto recentemente incorporou Rachel Taylor (voz, teclados).
Nós batemos um papo por email com Sean para saber mais sobre a banda e sobre “Permo”, álbum de estreia deles.
1 – Onde vocês se conheceram e como acabaram tocando juntos? Aparentemente todos militam na mesma cena em Glasgow…
Sim, nós nos conhecemos em shows em Glasgow. Cada um tocava em sua banda e fomos nos conhecendo com o passar do tempo. Eu (Sean) já era fã dos trabalhos dos outros integrantes antes mesmo de tocar com eles. Nós usávamos o mesmo espaço de ensaio e em algum momento eu comecei a tocar com Jack e o Chris. Decidimos chamar esse novo projeto de ‘Spinning Coin’. Logo depois convidamos o Cal e um ano e meio depois a Rachel se juntou à nós e assim estamos.
2 – Fale um pouco destas outras bandas que cada um tem e de como vocês fazem para administrar o tempo entre elas?
Nós normalmente ensaiamos dois dias por semana. Jack toca guitarra na Smack Wizards, no Pastels e também no Sacred Paws. Chris toca no Odd Law. Cal está no Breakfast Muff, Rapid Tan e Kaputt. A Rachel tem um projeto solo chamado Rocky Lorelei e também toca na Hairband. E ainda tem o Winning Sperm Party que é o selo de Glasgow que lançou nossa primeira cassete, assim como as fitas da Rocky Lorelei, Smack Wizards, Odd Law.
3 – O que vocês fazem além da banda?
Todos na banda têm outros trabalhos. Chris trabalha para uma empresa de aluguel de equipamentos musicais; Rachel ajuda pessoas que precisam de cuidados; Jack faz molduras.
4 – Como surgiu a oportunidade de tocar com Teenage Fanclub e Real Estate? Posso imaginar que deve ter sido fácil com o Teenage Fanclub, que são seus vizinhos, mas com o Real Estate… eles são de New Jersey (EUA). Esta oportunidades de tocar com bandas grandes são frequentes para o Spinning Coin?
Na verdade eu perguntei ao Gerry Love (baixista do Teenage Fanclub) se a gente poderia ser a banda de abertura deles num show no Barrowlands (em Glasgow). Eu já o havia encontrado antes, conversamos sobre música. Quando vi que eles fariam esse show, achei que valia a pena abusar da intimidade… Mas, honestamente, não achei que eles topariam, então eu fiquei bem surpreso quando o Teenage Fanclub nos pediu para fazer toda a turnê inglesa com eles. Hoje em dia nós temos um agente que conseguiu nos colocar na turnê do Real Estate. Temos algumas possibilidades aparecendo mas eu não diria que é algo constante.
5 – Como aconteceu a aproximação com o selo Geographic? Os amigos em comum ajudaram? Existiram ofertas de outros selos?
Eu encontrei com Stephen Pastel num corredor esperando para usar o banheiro. Eu acho que algum amigo dele nos recomendou e ele já tinha ouvido nossa primeira fita cassete. Ele disse que achava que uma de nossas músicas, ‘Albany’, daria um belo compacto. Antes disso, o (selo) Fuzzkill havia lançado nossa 2ª fita cassete, e logo na sequência saiu o 7″ pela Geographic.
6 – Eu não sei se estou falando besteira mas o Geographic está voltando à ativa em parceria com a Domino Recording por causa do álbum do Spinning Coin, não?
Pode ser, não tenho certeza! Stephen mencionou que não lançava uma banda como a gente desde os anos 80! Mas eu suponho que ele queria dizer que não lançava uma banda que queira tocar bastante, trabalhar o disco em comparação a projetos que basicamente ficaram apenas em estúdio…
7 – No Brasil, a maioria das bandas independentes tem que investir dinheiro para organizar os primeiros shows. Como era para vocês antes de assinar com a Geographic e decidir gravar um álbum? Os shows eram lucrativos? A venda de compactos e cassetes era suficiente para pagar os custos dos shows ?
Felizmente os cachês como banda de abertura foram suficientes para cobrir nossos custos. Além disso, nós dividimos os gastos com estúdio para ensaio com outras bandas, o que fica bem barato. Nós também fazemos muitos shows em poucos dias, ganhando algo tem torno de £50-100 (libras esterlinas) por noite. Quando estamos em turnê, recebemos o suficiente para pagar pela gasolina, então os compactos e cassettes ajudavam com uma grana extra. Qualquer dinheiro que sobrava, normalmente a gente gastava com comida.
8 – O que esperar de “Permo”, seu álbum de estreia? Mais músicas como “Albany” e “Rain on Hope Street”? Ou músicas mais barulhentas como “Tin” e “Sides”?
“Raining on Hope Street”, “Tin” e “Sides” estão no álbum! Eu acho que é mix de tudo, algumas músicas mais barulhentas, outras mais calmas…
9 – O Edwyn Collins (Orange Juice, produtor de Aztec Camera, The Cribs, fundador do selo Postcard, etc) foi a escolha natural para ser produtor do álbum? Como vocês chegaram até ele?
Ele foi um dos produtores de “Permo”. Quem nos sugeriu foi o próprio Stephen Pastel. Edwyn tinha acabado de montar um novo estúdio nas Highlands e a ideia de ir lá gravar o disco foi muito atraente.
11 – Quem escreveu as músicas do álbum? E o que significa “Permo”?
Eu escrevi as letras e os acordes básicos de metade das músicas e Jack o restante. “Permo” é uma redução da palavra permanente.
12 – Li em algum lugar que os temas preferidos de vocês são escapismo, crítica social e política. Ah, e teve um zine que os chamou de “shoegaze socialista”, algum comentário a respeito?
As letras são apenas o que estávamos pensando naquele momento. E às vezes é difícil evitar assuntos políticos, talvez na mesma medida em que queremos escapar deles! E eu acho engraçado alguém nos chamar de shoegazers socialistas…
13 – O que você acha do BRExit, do Trump e dos movimentos de direita tomando o poder via golpe de estado na América latina?
Eu acho realmente assustador e horrível presenciar o crescimento do racismo e ver movimentos de direita chegarem ao poder. Parece que todas as políticas são projetadas para desmoralizar e assustar a população em geral, ensinando-os a temer e odiar-se uns aos outros.
14 – Quais são os planos para promover “Permo”?
O plano é sair em turnê o máximo possível em 2018. Se tudo der certo, iremos aos Estados Unidos. E adoraríamos ir também à América do Sul, se existir algum jeito de fazer isso acontecer.
A foto que ilustra está página é de Brian Sweeney