Listas de melhores do ano são um caso de amor e ódio. Tem gente que ama, fica discutindo as injustiças e os acertos; tem gente que odeia, acha uma simplificação e não perdoa as ausências.
Mas uma coisa é certa: as listas de melhores do ano nos ajudam a lembrar o que ouvimos e o que esquecemos, principalmente nos dias de hoje, com a profusão de lançamentos e bandas novas.
Vasculhando as listas alheias, percebemos várias maneiras de digerir o ano que passou. Tem blog que se limita ao Top 10 básico, outros preferem Top 100 e tem publicação que prefere não organizar a preferência, apenas lista os melhores. Alguns dividiram as listas entre gêneros, separando os melhores do metal dos melhores do pop.
Jornalão, blog, portal, programa de hard news, loja de disco, agência de notícias, revista, rádio, ninguém escapa da famigerada lista de melhores do ano. E as listas são a cara das publicações: a DJ Mag por exemplo foi uma das poucas a listar o bom disco “Song for Alpha” do DJ Daniel Avery entre os 15 primeiros.
Curioso notar como alguns discos muito citados não passaram nem perto do nosso radar. Isso comprova que o algoritmo funciona, criando as tais bolhas, tipo a de seus “amigos” de Facebook, inclusive para o que você ouve. Tem um lado bom nisso, que é de você ouvir o que gosta. Mas o lado ruim é que gosto musical não deveria ser tão compartimentalizado assim.
Na busca pela diversidade, você deve estar achando que nós viramos os freaks das listas, que tivemos um trabalho do cão pesquisando tudo isso… nada!
Existe um site excelente chamado Album of the Year que compila todas estas listas. Eles sim são maníacos. O AOTY deve ter um tesão bizarro em dados porque eles fizeram até um agregado de todas as listas, onde, por exemplo, os discos que mais aparecem nas listas e que ficam mais vezes nas primeiras posições, ganham mais pontos. Veja o resultado aqui (essa lista muda de tempos em tempos, sempre que novas listas de melhores do ano são inseridas no sistema do site). Dos 10 primeiros em 30 de Dezembro de 2018, eu só ouvi 2 discos. E pior: metade eu NUNCA tinha nem ouvido falar.
Ainda no AOTY, outra lista bacana é a dos discos mais bem avaliados pelos críticos em 2018 (aqui) e os mais bem avaliados pelo público (aqui). “Both Directions at Once: The Lost Album”, disco póstumo de John Coltrane ficou em 3º na lista dos críticos e em 7º na lista do público. Idles, Parquet Courts e Christine & the Queens aparecem nas duas listas. Janelle Monaé, que aparece em primeira no agregado (sempre muito bem colocada em 71 listas), está apenas na 25ª posição na lista do público e na 14ª posição na lista dos críticos.
Orgasmos de data! O site ainda organiza sua vida dando links diretos para os discos, mostrando quantas vezes e em quais outras listas determinado disco aparece e traz também listas de anos passados de algumas publicações! Ou seja, se você quiser saber, por exemplo, quem o NME escolheu como melhor disco de 2008, tem como achar lá.
Nessa andada cibernética pelas listas, encontramos algumas sensacionais que a gente resolveu enumerar aqui, só por diversão. Nossos critérios para a seleção foram:
- bom gosto (ou seja, dá pra confiar e ouvir o que você não conhece ainda. Claro que o bom gosto alheio tem que ser igual ao nosso bom gosto 😉 )
- pesquisa apurada (traz nomes novos, fora do esquemão)
- coerência entre estilos (não é uma Pitchfork da vida, que mistura a porra toda e acha isso cool)
- escolha do 1º lugar
Vamos então à nossa lista das melhores listas de melhores de 2018:
1- Popmatters (Shoegaze & Dream Pop)
quem é: blog criado em 1999 especializado em crítica cultural.
lista: top 12
porquê: o blog Popmatters resolveu dividir as listas em gêneros: folk, metal, reissues, progressivo e até indie rock separado de indie pop… uma delícia! A primeira lista que checamos, óbvio, foi esta de shoegaze. E ela não decepciona. Com Beach House em primeiro, traz nomes que a gente não conhecia como Lowtide (foto), Mint Field, Spesh, Daysleepers, Waveless, Tanukichan… e tudo coisa fina.
2- Rough Trade
quem é: loja e selo criado em Londres em 1978, lançou e continua a lançar bandas incríveis, tem lojas na Inglaterra e Estados Unidos.
lista: top 50
porquê: sempre uma boa referência para o que está sendo lançado em diferentes gêneros musicais, de diversos cantos do Mundo, com boa percepção dos movimentos independentes. A lista da Rough Trade dá uma força para fenômenos locais como Django Django, Amyl & The Sniffers e Dream Wife, é coerente com os discos mais bem cotados como Kamasi Washington, Mitski e Idles, não esqueceu do (fraco) “Marauders” do Interpol, colocou Mark Peters entre os 10 mais e foi super camarada com o Shame em primeiro lugar.
3- MOJO
quem é: revista impressa fundada em 1993 pelo mesmo grupo editorial da Q Magazine, mais voltada para rock clássico, continua a ser impressa até hoje e quase sempre traz um CD encartado
lista: top 75
porquê: apesar de voltada pro rock clássico, a Mojo mostrou que está ligada nas novidades. Incluiu Shame, Go Kart Mozart (foto), Yo La Tengo, Goon Sax; não esqueceu da Bjork nem dos discos do tiozões como Neil Young & The Promise, Willie Nelson, Paul Weller e Paul McCartney. E metade do top 10 é responsa: Rolling Blackouts CF, Breeders, Spiritualized, Courtney Barnett e Idles.
4 – BBC 6 Music
quem é: rádio pública britânica especializada em música, que usa o singelo slogan “Tocamos o que gostamos”.
lista: top 10
porquê: melhor síntese do ano, bem variada nos estilos mas altamente confiável. Foi aqui que descobrimos Khruangbin.
5 – The Skinny
quem é: revista impressa criada na Escócia em 2005, hoje com tiragem de 63 mil cópias.
lista: top 50
porquê: boa seleção variando entre indie-rock, eletrônica e poucas quedas pro rap, no máximo chegando a um soul de leve. Muitos discos que a gente não ouviu falar, inclusive o 1º lugar, Young Fathers “Cocoa Sugar”, muito citado em várias listas.
6 – Grupo do Midsummer Madness no Facebook
quem é: grupo de bate papo do Midsummer Madness no Facebook
lista: top 50
porquê: era para essa lista ficar em 1º lugar… mas o quórum foi tão baixo que não dá pra contar. Das mais de 500 pessoas no grupo, menos de 10% participou. O primeiro lugar ficou com “Call the Comet” do Johnny Marr, um bom disco mas se ficar pra posteridade como melhor de 2018, vai ficar parecendo que esse ano foi fraco. E não foi.
7 – Louder Than War
quem é: criada em 2010 e lançada em papel desde 2015, o LTW foi quem deu primeiro sobre a reunião do Stone Roses.
lista: top 78
porquê: apesar do número quebrado, top 78, traz boas escolhas na linha rock barulhento e um monte, mas um monte mesmo de discos que não aparecem em nenhuma outra lista. Essa lista é portanto uma boa fonte para quem quer ouvir coisas novas, fora do esquemão. Idles em primeiro lugar, não esqueceram do disco da La Luz, Parquet Courts nem do Johnny Marr. E incluiram o velhaco Therapy? que lançou disco em 2018 e quase ninguém citou.
8 – Uncut
quem é: revista impressa lançada em 1997 em Londres, continua a ser publicada até hoje.
lista: top 75
porquê: Incluiu Beach House e Melody’s Echo Chamber, nomes pouco comuns como Laurie Anderson, Angélique Kidjo, deu chance a David Byrne e à Tracey Thorn, lembrou do Calexico e do Cowboy Junkies; e fez um top 10 bacana com Gruff Rhys, Yo La Tengo, Spiritualized, Rolling Blackouts CF e Low.
9 – Noisey
quem é: editoria de cultura e música da pentelha Vice, hoje uma mega publicação com 24 edições globais, tiragem total mundial de 1 milhão de revistas.
lista: top 100
porquê: o modus operandi sensacionalista do grupo Vice, aquela vontade infinita de causar por causar, até que não afetou tanto a lista. Com 100 opções para escolher, muito rap, trap, R&B; Ariana Grande no Top 3 e Arctic Monkeys na lista. Mas ainda assim eles incluiram Iceage, Nothing, Mount Eerie e Frankie Cosmo (pouco citados em outras listas), misturaram bandas screamo, death metal e post hardcore no meio. Talvez seja uma das listas mais diversificadas, o que, nesse contexto de bolha do algoritmo, é sempre bem vindo.
10 – Loud & Quiet
quem é: revista impressa mensal distribuída gratuitamente em Londres.
lista: top 40
porquê: incluiu Rolling Blackouts CF, Goon Sax, Gwenno, Hayley, Heynderickx; tem indie rock, indietronica, e alguns nomes que valem a pena checar.