Resisti o máximo que pude antes de escrever esta resenha. E já adianto: o 11º álbum do Primal Scream não é grandes coisas.
Não queria escrever porque:
1) o Primal Scream é uma bandinha querida, com alguns álbuns no meu top 50 (“Screamadelica”, “Sonic Flower Groove” e “Primal Scream”, nesta ordem de importância)
2) o midsummer madness tem poucas resenhas no ar e a maioria das que eu escrevi são de bandas das antigas: Iggy Pop, Pixies, of Montreal… eu tenho ouvido mais bandas novas do que velhas, mas sei lá porque só escrevo sobre as velhas.
3) “Chaosmosis” parece um pastiche dos bons momentos do Primal Scream.
Mesmo assim eu sempre volto a ouvir o álbum e ele não soa mal. Produzido por Bobby Gillespie e Andrew Innes (respectivamente vocalista e guitarrista do Primal Scream) com ajuda de Bjorn Yttling (baixista do Peter Bjorn and John) em seis das 10 faixas, “Chaosmosis” saiu no começo de 2016 e traz participações de Sky Ferreira (na música “Where the Light Gets In”), das três irmãs Haim (nas músicas “Trippin´on Your Love” e “100% or Nothing”), de John Eriksson (de novo Peter, Bjorn and John tocando bateria nas faixas “Private Wars” e ” Autumn in Paradise”, entre os mais conhecidos.
A capa (feia) é do artista escocês Jim Lambie, que chegou a tocar na Boy Hairdresser´s, banda que depois se transformou no Teenage Fanclub. Jim tem um trabalho interessante com grafismos mas não deu para entender o porquê de inserir a cara do Bobby Gillespie ali no meio.
Impossível ouvir o disco e não ir comparando as músicas com as fases do Primal Scream, igual eu fiz no álbum “Head Carrier” do Pixies. E também é impossível não usar o mesmo argumento: quando eu ouvi Primal Scream pela primeira vez, era 1990 ou 1991, aquela era a banda do ex-baterista do Jesus & Mary Chain, e eles estavam lançando “Screamadelica”, um dos melhores álbuns de todos os tempos. O que é o Primal Scream hoje? Já se passaram mais de 17 anos desde o último álbum relevante (pra mim “XTRMNTR” de 2000).
“Chaosmosis” começa com um rockinho descartável (“Tripping on Your Love”) que teria um belo apelo pop nos anos 90, lembra bastante EMF, Happy Mondays, Soup Dragons e o próprio Primal Scream em “Movin´on Up”. Na faixa seguinte é como se pulássemos para a fase mais eletrônica da banda mas com um jeitão de “Numb” do U2. O clima mais lentinho prossegue em “I Can Change” que tem um lá-lá-lá bonitinho lá pro final.
A segunda música com participação das irmãs Haim é “1oo% or Nothing”, um puro Primal Scream da fase “Vanishing Point” e “XTRMNTR” com muita cara do novo New Order. É uma das boas músicas do disco. “Private Wars” é uma balada de voz e violão com cara de canto medieval que não se encaixa em nenhuma parte deste disco… talvez se fosse a última faixa, mas não no meio do álbum.
“Where The Ligh Gets In” foi a música que apresentou o álbum ao público, traz Sky Ferreira num dueto com Gillespie. De novo, arranjo eletrônico à la New Order e Pet Shop Boys, extremamente pop mas não entra no top 10 de músicas do Primal Scream. Na sequência, momento mais “XTRMNTR” de “Chaosmosis” com a acelerada “When the Blackout Meets the Fallout”, lembranças de Atari Teenage Riot e toda aquela onda de punk eletrônico… mas quando você começa a ficar nostálgico, a música acaba.
“Carnival of Fools” podia ser do Peter Bjorn & John, até porque foi escrita e produzida por Gillespie, Innes e Bjorn. Dai pra frente pouca coisa compensa: “Golden Rope” entraria na fila para lado B de alguma música de “Vanishing Point” (mas ainda assim não seria selecionada) e “Autumn in Paradise” não figuraria nem nos lados B de uma coletânea nostálgica do Revenge, aquele projeto falido do Peter Hook.
Quase um ano depois de lançado, a posição mais alta que o disco alcançou foi um 3º lugar na parada independente norte americana (segundo a Billboard) e também um 3º lugar na parada escocesa (terra natal do Primal Scream).
Mas porque diabos eu volto a escutar esse disco então? Porque todas as referências que eu citei são bandas boas (exceto Revenge e EMF) e um disco fraco do Primal Scream ainda assim é um disco acima da média. Pode parecer uma conclusão preguiçosa mas eu não sei explicar de outro jeito. Para me desculpar, divirta-se com este top 10 do Primal Scream (que na verdade tem 11 músicas porque a última música é uma versão de Burt Bacharach)
11º álbum da discografia do Primal Scream com participações de Sky Ferreira, Haim e Peter Bjorn & John