Não me lembro o ano exato, mas deve ter sido 1991 quando eu peguei o nº 3 do zine Euthanásia, provavelmente no Espaço Retrô em São Paulo. Para começo de conversa, um fanzine impresso em gráfica, com capa couchê em 1990 era MUITO LUXO! As chamadas de capa também davam água na boca: Pin Ups, Ride, Joy (Division)…
Mais incrível ainda? Era gratuito!
Com 28 páginas e alguns anúncios (Brechó Universo em Desfile, Studio Tan, Casa do Som, Brasil 2000 FM), o Euthanásia era editado por Iesus Silveira e Roberto Coelho. Não dá pra saber se é o mesmo Roberto que o Roberto Cotrim, dono do melhor lugar de shows de São Paulo do começo dos anos 90, o Espaço Retrô. Além de anúncios de festas do Retrô, o zine também era um bom guia dos espaços e eventos da capital paulistana do começo dos anos 90, com detalhes de festas numa casa chamada Free Days (em São Miguel Paulista) e também uma descrição detalhada da 1ª Rave do Projeto Euthanásia, que aconteceria num sítio a 30 minutos de SP, com ônibus saindo da capital, com shows do Pin Ups, UTI e MessRS. Alguém foi nesta casa, nesta rave? Queremos fotos e relatos.
Na parte musical, uma devoção ao The Doors com 3 ou 4 textos sobre a banda espalhados pelo zine; texto apaixonado pelos Sugarcubes de uma islandesa ainda adolescente chamada Bjork, uma antenadíssima listagem das novas bandas intitulada “Introdução aos 90´s” citando Lush, Ride, Jesus Jones e Inspiral Carpets. Foram publicadas também matérias bem detalhadas sobre Soup Dragons e Happy Mondays, inclusive com citação de que a sensação de Manchester havia sido encaixada de última hora no Rock in Rio de 1991. Todos estes textos mais “antenados” foram escritos por Beto Coelho.
Mais adiante, um texto sobre psicodelia, citando as festas que iriam acontecer na tal Free Days, com nomes dos DJs e lista dos vídeos que seriam exibidos no telão. Exibir apresentações ao vivo ou filmes cult em VHS eram o máximo em tecnologia das festas da época. Num determinado dia da Free Days seria exibido “um especial da gravadora Creation, gentilmente cedido po Zé Antônio, da banda Pin Ups“. Vocês não têm ideia de como esse VHS era raro aqui no Brasil; a minha cópia era a 3ª geração da fita, que eu consegui em 1993 ou 1994, ao trabalhar na loja carioca de CDs importados Spider.
As páginas centrais eram dedicadas a um bate-papo com o Pin Ups, onde a banda listava influências difíceis de se encontrar nas bandas locais da época, como Birdland, Jane´s Addiction, Mudhoney, Chapterhouse e várias outras, que de tão obscuras, estão com a grafia incorreta (Spacemen 3 virou Spacemens, Killing Chainsaw aparece no plural, Cocteau Twins está como Cocqteau, e assim vai… altamente perdoável). Curioso é ler o Pin Ups falando sobre uma possível turnê na Europa e Japão, que a gravadora da banda, a Stiletto, estaria preparando.
Fora da música, quadrinhos de Robert Crumb, divagações em texto sobre literatura marginal, ilustrações com manifestos bem ao estilo da revista inglesa The Face, que era modinha na época, um ensaio sobre sexualidade e um conto de Iesus sobre os tripulantes do Enola Gay, avião que soltou a bomba atômica sobre o Japão.
Devorei rapidamente essa edição, para mim um dos melhores fanzines do começo dos anos 90. Infelizmente, este é o único número que tenho.
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