Tem um lance que o André Barcinski escreveu uma vez que eu curto muito. Ele comenta que imaginava como seria ter visto o Sabbath em 1974 ou os Sex Pistols em 1976; e que ali, depois de ter visto o Nirvana tocando “Smells Like Teen Spirit” em 1991, sabia como era assistir uma banda no auge mandando um clássico.
De minha parte, sempre quis muito mais ver o Cure tocando “A Forest” em 1980. E daí que eu vi o Warpaint tocando “Head’s Up” em 2017 e é isso.
Outra coisa que li e sempre lembro, também do início dos 1990, era “se tem uma banda que respira o mesmo ar que The Cure, é o Ride“. Pois bem, se tem alguém hoje que encharca os pulmões nesse ar é o Warpaint.
Não é que elas pareçam o Cure. Em vários momentos, rola uma semelhança, mas não é isso, é canalização. Canalizam The Cure, canalizam The Wailers, canalizam Kate Bush, canalizam James Brown, canalizam todo o pós-punk, canalizam Cocteau Twins, canalizam Chic, tudo num fluxo só.
E aí, em última instância, o que canalizam mesmo é a Beleza, assim com B maiúsculo. Tô tentando muito a sério não falar em mágica aqui, mas não sei se conseguirei.
Elas lidam com a Beleza sem domá-la, é mais dançando com ela, sei lá. Acho que elas fazem mais ou menos como o papo dos Jedi sobre a Força. Percebendo-a em todas as coisas vivas, mantendo o Universo coeso, aquela coisa toda. E conjurando na arte delas pra ser uma das melhores bandas desse século e pra lembrar que a coisa mais foda do rock é quando ele não se importa nem um pouco se é rock mesmo ou não. Música é foda demais.
“Heads Up” e “Krimsom” por Alexandre Matias, do Trabalho Sujo
Warpaint tocou em São Paulo dias 03 e o4 de fevereiro dentro do projeto The Art of Heineken.