Adam Franklin, guitarrista, vocalista e fundador do Swervedriver publicou no Bandcamp da banda um texto sobre os meses de formação que levaram a gravação do primeiro EP que traz a clássica “Son of Mustang Ford”.
Aproveitando os 30 anos de lançamento do 1º EP, a banda vai lançar um vinil com a mixagem original remasterizada e título diferente: “Petroleum Spirit Daze”. O vinil já pode ser encomendado por £14 no Bandcamp com entrega prevista para Outubro deste ano.
O texto de Adam tem partes incríveis que eu tomei a liberdade de traduzir aqui, incluindo links e imagens que não estão no texto original do Bandcamp.
Em 1989, havia mudança no ar – o movimento polonês “Solidarność” venceu a primeira eleição livre daquele país que desencadeou uma transformação em toda a Europa, mas no mesmo dia, o exército chinês esmagou protestos pró-democracia na Praça da Paz Celestial. Em questão de meses, a Tchecoslováquia teve sua Revolução de Veludo, o ditador romeno Nicolae Ceausescu foi derrubado e, é claro, o Muro de Berlim caiu – notavelmente o futuro baixista do Swervedriver, Steve George, estava em Berlim naquele dia, tocando com sua banda Eight Storey Window e ele foi até o Muro onde alguém lhe entregou um martelo e ele conseguiu tirar para si um pedaço dele.
Enquanto isso, em Oxford – (o conceito dos Sex Pistols para ) ‘England’s Dreaming’ era personificado pelo futuro primeiro-ministro Boris Johnson e seus companheiros do ‘Bullingdon Club’ (foto ao lado) fazendo baderna em bares da cidade, tomando champagne em restaurantes de Oxfordshire e provocando “as plebeias”, para, no final, destruir o lugar e depois sacar seus talões de cheques perguntando quanto deviam pagar pelos danos – o Swervedriver mal havia sido formado.
Tínhamos ficado entediados com o Shake Appeal (foto abaixo ao lado) e decidimos nos separar depois de um show de abertura esquecível para a World Domination Enterprises no Poly (…) Voltamos quando Adi Vines ouviu algumas músicas (…) novas que eu havia escrito e decidiu “vamos reunir a banda e tocar essas músicas com você como cantor agora”.
Não era um segredo em Oxford que os moleques convencidos do Ride haviam assinado com a Creation Records. (…)
A Creation foi o último selo a quem entregamos nossa fita demo – Blast First foi o primeiro porque haviam lançado discos do Sonic Youth e Dinosaur Jr; Glass Records em segundo porque haviam lançado o Spacemen 3 – mas nós tínhamos uma fita sobrando e pensávamos “que diabos?” e foi assim que Mark Gardener (Ride) levou uma fita para Alan McGee.
McGee estava em Los Angeles num carro com Guy Chadwick (House of Love) quando ele finalmente escutou a fita (…), ele decidiu assinar conosco. No dia 21 de março de 1990, aconteceu nosso primeiro show com o novo baterista Graham Bonnar, abrindo para o House of Love no Liverpool Royal Court – o Liverpool Football Club estava prestes a ser campeão inglês pela 18ª vez .
No começo de abril estávamos no estúdio House in the Woods, na profunda e sombria Surrey, gravando nosso EP de estreia para Creation Records, com o engenheiro de gravação e bom amigo Tim Turan. Ele não apenas gravou a demo que nos garantiu o contrato mas também havia gravado o Shake Appeal. Numa pausa para o jantar numa quinta-feira à noite, recebemos uma ligação de nosso agente: “Confira o Top of the Pops hoje à noite – Ride conquistou o Top 40!” Isso foi insano.
Terminamos a gravação e eu levei uma cópia do EP para Sevilha, na Espanha, onde eu passaria uma semana de férias com minha namorada. Havia maconha e laranjas em todos os lugares e eu me lembro de estar sentado à beira-mar ouvindo essas músicas enquanto olhava através da neblina ao longe para o que deveria ser Marrocos – eu estava olhando para África enquanto ouvia nosso primeiro lançamento.
Eu não estava certo sobre a gravação. Certas passagens eram sublimes, outras partes não me convenciam, mas talvez eu estivesse um pouco impressionado com … as laranjas e tudo mais? Quando voltei a Londres, uma semana depois, haviam mensagens dizendo que McGee também não estava convencido e que deveríamos regravar o EP, desta vez em Londres. E foi o que nós fizemos. Em 15 de julho de 1990, o debut Swervedriver EP seria lançado.
No entanto, a gravação original feita no House of the Woods ainda ressoava e prometemos ‘provavelmente’ lançá-la um dia desses. Dez mil novecentos e cinquenta dias depois – um total de 30 anos – e aqui está.
Na verdade, alguns trechos eram realmente bons – as guitarras em “Volcano Trash”; “Juggernaut” mais lenta e mais detalhada destaca o padrão hipnótico de bateria de Graham; o final leve de “Kill the Superheroes” ainda é tão bom quanto jamais o Swervedriver soou. Até “Son of Mustang Ford”, com os violões de Adi, Jim e eu destruindo os instrumentos. Esta foi a única música das quatro que viu a luz do dia, aparecendo numa fita da NME / Creation de 1991.
Percebo agora que parece Shake Appeal tocando as músicas do Swervedriver. O som é seco e claro, mas hesitante, principalmente nos vocais onde eu ainda não havia encontrado um estilo. Além disso, Graham havia aparecido na gravação da demo de “Son of Mustang Ford”, cantando as partes de chamada e resposta “petroleum spirit daze” que foram inexplicavelmente deixadas de fora desta versão de Surrey mas foram reintegradas para na versão da Creation. Na verdade, nunca fomos apaixonados pelo som do EP que saiu via Creation, mas McGee fez as conexões certas e o EP tinha o ‘fator x’ exigido que nos levou à primeira gravação onde nós ficamos realmente felizes – o EP Rave Down que se seguiu em novembro de 1991.
Mas o espírito do Swervedriver estava lá. Não éramos jovens excessivamente bravos – somos indiscutivelmente velhos mais bravos – e não escrevemos sobre as coisas que nos irritavam, preferindo conjurar um sentimento de magia, excitação e fuga (…) e misturamos o experimentalismo da guitarra com nossa própria marca peculiar de power pop e músicas sobre carros, amor e OVNIs.
Trinta anos depois, o que mudou? Nesta semana, um governo populista foi instalado na Polônia e quer restringir as liberdades, em particular, os direitos LGBT, enquanto China e Rússia são vistas como perigosas pelo Ocidente, (…). A Alemanha reunificada lidera o caminho na Europa, seu governo ultrapassando facilmente todos os outros países europeus em resposta à pandemia de Coronavírus, enquanto o governo britânico segue em dificuldades – liderado pelo mesmo privilegiado, mentiroso patológico e cliente de serviços de prostituição, Boris Johnson dos dias de Oxford – engana seus cidadãos a pular de um penhasco chamado Brexit. Os EUA são governados por um racista, empresário de múltiplas falências, ex-astro narcisista de reality TV que não sabe soletrar nem ler e que certamente não poderia liderar. E o Liverpool FC acabou de ganhar o 19º Campeonato Inglês.
Foram os mais longos e mais curtos trinta anos que voaram em um piscar de olhos.
Então ai está o EP original de “Son of Mustang Ford”, rebatizado ‘Petroleum Spirit Daze’ e remasterizado com amor em 2020 por Tim Turan, que o gravou originalmente.
Adam
16 de julho de 2020