Quando eu gosto de uma banda, eu fico comparando com outras bandas que gosto. Não sei explicar o porquê. Sei que gosto porque parece Pavement.
Sem saber como escrever uma resenha decente, que não nos envergonhe, resolvemos simplificar.
Our Fastest Typist é o pseudônimo que Alex Fern, de 19 anos, morador de Houston (Texas), usa para lançar suas músicas. Em Agosto 2018 ele lançou o primeiro álbum “Group Therapy For Imaginary Monsters” (Terapia de Grupo para Monstros Imaginários).
A gente conversou com Alex por email para tentar entender a pessoa por trás das músicas. Mesmo com a internet entre nós, fica clara a timidez do rapaz.
Fotos? “Eu não quero enviar fotos. Sinceramente, ficaria envergonhado se amigos ou familiares ouvissem o álbum. Eu não quero que eles saibam que sou eu, as músicas são muito pessoais“, desculpou-se.
O que será que faz uma pessoa gravar um álbum inteiro e ter vergonha do que está gravado? “Eu não estou muito preocupado com as expectativas das pessoas. Para mim é importante que eu escrevo a música, gravo e deixo a disposição para ser ouvida. É uma maneira de tirar as coisas do meu peito, me ajuda a ficar em paz.”
Dai a gente lê coisas como o 2º verso da primeira música, “Genocide” e se assusta: “I just left the morgue / covered in my own blood / a suicide attempt that was successful” (Acabei de sair do necrotério / coberto no meu próprio sangue / uma tentativa de suicídio bem sucedida). “Eu nunca tentei me matar ou algo assim, se é isso que você quer saber! Gosto de usar metáforas e exageros para tentar fazer as coisas ficarem na cabeça das pessoas. Nem acho que escrevo minhas melhores músicas quando estou infeliz. Como eu disse, é uma maneira de tirar as emoções sem ter que trazer alguém para a equação“.
Eu deveria ter prestado mais atenção em “A Tower That Reaches to the Heavens”:
should i spit it all out, let somebody know
of my secret torment? what’s invisible?
what have they known all along?
is it no secret at all? or do i
keep it locked tight, never tell a soul
keep trying to climb out of here alone
and let nobody know?
i must be invisible
(Devo cuspir tudo / deixe alguém saber / do meu tormento secreto? / o que é invisível? / o que eles sabiam o tempo todo? / não é segredo algum? / ou eu mantenho-o bem fechado / nunca diga a ninguém / continue tentando sair daqui sozinho / sem ninguém saber? / eu devo ser invisível)
Mas se você, lendo esse texto agora, é igual a mim, não se liga nas letras de primeira, provavelmente será a parte instrumental que deve te pegar. “Sou super fã de David Bowie, especificamente do ‘Diamond Dogs’, dos últimos discos dos Beatles, ‘Abbey Road’, ‘Let It Be’; de Bright Eyes, Radiohead, Cat Stevens, Simon & Garfunkel, e vários outros!”
Ouvindo “Group Therapy…” não é esta a primeira impressão. Alex salva minha pele e assume: “Eu acho que o que mais me influenciou nesse álbum foi provavelmente “Who Will Cut Our Hair When We’re Gone?” do The Unicorns, qualquer versão de “Twin Fantasy” do Car Seat Headrest, o 1º álbum do Clap Your Hands Say Yeah, e muitas coisas do Mount Eerie“. É por ai mesmo.
Alex nunca tocou em outra banda mas ainda assim gravou tudo sozinho para o álbum. Guitarras, baixos, pianos e um pouco de bateria. Tudo gravado de forma analógica com efeitos adicionados digitalmente. “Estou cursando Universidade em tempo integral, então, não posso me dedicar totalmente à música. Não planejo shows, não tenho grandes expectativas, como disse. Na verdade é apenas um hobby e não planejo fazer mais do que faço atualmente num futuro próximo“. Talvez seja o descompromisso e até a intimidade dos assuntos nas letras que dê o charme para o álbum.
É o que ele fala na faixa “It’s Nice Outside But My Head is Killing Me”: “used to really like that last song / but then i listened to it more than once, and / now i hate it, just like everything else i’ve made / though if you’ve heard it now, i guess i left it on” (realmente gostei dessa última música / mas então eu escutei mais uma vez, e / agora eu odeio, assim como tudo que eu fiz / mas se você está ouvindo agora / eu acho que eu deixei passar).
“Até agora, as reações são muito boas. Eu nunca havia lançado um álbum completo antes, quase não divulguei mas ainda assim o Bandcamp relatou uma quantidade decente de audições. Ouvi dizer que é mais difícil encontrar o público que goste da sua música do que realmente gravá-las!”
Verdade Alex. A gente espera ter ajudado com algumas dezenas de novos interessados.