O Velocity Girl lançou seu disco de estreia em 1993 e em Setembro de 2024 vai lançar uma versão remixada e remasterizada de “Copacetic”. O anúncio foi feito pela Sub Pop, selo que lançou “Copacetic” 31 anos atrás. É curioso saber que a banda tem uma certa aversão ao álbum original porque, apesar de “Copacetic” ter ganho status de cult, eu me lembro de na época achar abaixo da média, principalmente levando em conta o histórico dos integrantes.
Não quero causar polêmica, vamos ao histórico para meus argumentos.
O Velocity Girl se formou em 1989 na University of Maryland em Washington DC, capital estadunidense. Na formação que gravou “Copacetic”, estavam os guitarristas Archie Moore e Brian Nelson ambos ex-Black Tambourine, além do baterista Jim Spellman (High Back Chairs, Piper Club), o baixista Kelly Riles e a vocalista Sarah Shannon.
Quando você volta nas bandas originais, principalmente no Black Tambourine, o esperado para um então dream-team do indie-pop estava num nível bem elevado. Esta coletânea de singles do Black Tambourine tem 2 ou 3 músicas que entram facilmente no meu ranking de melhores músicas de todos os tempos, ouça:
Para aumentar a ansiedade, o nome Velocity Girl era inspirado na música do Primal Scream que saiu na famosa cassete C86 do semanário NME e ajudou a definir o caminho do indie-pop DIY que gerou selos como a Sarah Records na Inglaterra e Slumberland Records nos Estados Unidos, selo que inclusive lançou os primeiros singles do Velocity Girl.
Em seu início, o Velocity Girl citava como influência “bandas da Rough Trade e Postcard e algumas bandas do começo da Creation, além do Wedding Present“. Soma tudo isso e me diz se não era de se esperar um clássico disco de estreia?
Em 1992 o Velocity Girl começou a gravar “Copacetic” em Memphis com Bob Weston então guitarrista da Volcano Suns (banda que incluia ex-integrantes do Mission of Burma) e Shellac. Weston era um aprendiz do famoso produtor Steve Albini, e estava gravando vários discos de bandas que lançariam pela Sub Pop, Matador e Merge como Chavez, Polvo, Archers of Loaf e Sebadoh.
A julgar pela característica destas bandas e da influência de Albini, a mão de Weston deve ter pesado, tirando a suavidade pop sessentista que o Velocity Girl parecia almejar. Além disso, um ano antes, um movimento nada suave havia estourado em Seattle e Weston inclusive seria o auxiliar de Albini na gravação de “In Utero” do Nirvana em 1993.
Acho que dá para imaginar o tipo de som que estava na cabeça do produtor Bob Weston com estas referências. O texto no Bandcamp do Velocity Girl relata que “o tempo de estúdio acabou e a (banda) Polvo chegou para gravar seu disco. Então o nosso trabalho havia terminado e a gente foi gravar o vídeo para ‘Audrey’s Eyes.’”
Esta versão do vídeo já é com o áudio remixado. O texto do Bandcamp continua “‘Copacetic’ saiu em 1993 e as pessoas pareciam ter gostado mas na banda havia um sentimento de desapontamento em tal nível que eles não conseguiam ouvir o disco.” Ler isso atualmente faz, para mim, total sentido. Me lembro de ficar frustrado com “Copacetic”.
O disco tem dois grandes hits em “Crazy Town” e “Audrey’s Eyes” e bons momentos na viajante faixa de abertura “Pretty Sister”, nas guitarras ululantes de “Copacetic” e principalmente na simplicidade de “Pop Loser” que parece mais alinhada com o o que eu imaginava da banda. As outras faixas me deixaram com a sensação de que a banda havia deixado o indie-pop de lado e Weston tomou conta. Volto nas minhas referências para dizer que nunca achei “Copacetic” um clássico.
Talvez o desapontamento da banda tenha relegado as masters do disco ao limbo porque só foram encontradas em 2023, na casa da ex-sogra do baterista Jim Spellman. Pensa bem, você se separa da sua mulher e larga as masters de um disco seu na casa da mãe dela… é zero apego isso.
Archie Moore trabalhou na remixagem, “sem querer fazer o disco soar como 2024 mas sim tentando voltar ao espírito de 1992 e ao disco que deveríamos ter feito naquela época“, diz o texto no Bandcamp da banda. O resultado vai ser o “UltraCopacetic (Copacetic Remixed and Expanded)” com lançamento previsto para 16 de Agosto de 2024 via Sub Pop.
A nova versão vai incluir também as faixas “Warm/Crawl” do compacto 7″ Velocity Girl/Tsunami, “Creepy” que saiu como lado B no compacto 7″ de “Crazy Town”, “Stupid Thing” do compacto 7″ de “Audrey’s Eyes” e uma faixa inédita chamada “Even Die” gravada na mesma sessão de “Copacetic”. Entram também 5 faixas da Peel Session de 1993, incluindo duas músicas que não foram usadas no programa de John Peel.
Ainda dá tempo para “Copacetic” virar um clássico.
“Audrey’s Eyes” (2024)
“Copacetic” (1993)