Nada pode ser mais amplo do que o termo pós-punk. O post-punk inglês surgiu por volta de 1978 quando os jornalistas Jon Savage da Sounds e Paul Morley do NME começaram a usar o termo e sua variação, new musick, para se referir a artistas que se afastavam mesmice e do revisionismo do punk rock.
Ligados à arte de vanguarda, fugindo de influências do rock básico para experimentar com música eletrônica, dub e funk e até disco, nomes como Siouxsie e Banshees, Wire, Public Image Ltd, Pop Group, Cabaret Voltaire, Magazine, Pere Ubu, Joy Division, Talking Heads, Devo, Gang of Four, Slits, The Cure e The Fall dificilmente cabem juntos dentro de um único pote a não ser que a gente use o termo post punk.
Quando eu resolvi fazer mais essa edição da Indieca, o post punk que estava na minha cabeça era aquele do Wire, Joy Division, Gang of Four e Cure. Essa playlist traz bandas que eu andei ouvindo principalmente nos dois últimos anos e me deixaram bem impressionado. A principal característica que une estas dez bandas é a aspereza das guitarras bem à moda de Wire e Gang of Four. Uma inquietação social e política à la The Fall e Slits também me atraiu em todas elas, pois parece apropriado que se reflita sobre obscurantismo dos dias de hoje como se fazia nos anos 80.
Alguns nomes que seguem por esta linha como Weeping Icon, Automatic, Sleaford Mods e até Fontaines DC ficaram de fora porque acabaram de marcar seus lugares em outra playlist, a de Melhores de 2019, e eu não quis repetir banda.
Sem mais delongas, a Indieca #8 com dez novos nomes do generalíssimo post-punk.
Nots
O terceiro álbum deste trio de meninas (foto que ilustra a matéria) de Memphis ficou fora da lista de melhores de 2019 por muito pouco. A faixa “Half Painted House” tem baixo marcadão e efeitos na voz que as colocariam ao lado das Slits. Um teclado meio soturno no fundo, com a percussão marcada dá um clima quase dark à música. Para fãs de Siouxsie, Slits, Raincoats.
Neighbours Burning Neighbours
É sempre um alívio quando aparecem boas bandas fora do eixo UK-US. Esse quarteto com nome agressivo (Vizinhos Queimando Vizinhos) vem de Rotterdam, Holanda. À primeira audição lembra as riot grrls norte-americanas e também o grunge da Babes in Toyland. Vocais começam doces como uma Kim Gordon na época de “EVOL” mas depois se transformam. Bom para quem gosta de Sonic Youth, Come e Babes in Toyland.
Dry Cleaning
Quarteto de Londres com dois EP lançados. As guitarras duras e anguladas não fariam feio num Gang of Four e os gritinhos da vocalista Flo no meio da música lembra uma música do Stereolab. Ah, e a Meghan do título da música é a princesa inglesa.
FEELS
O curioso de algumas bandas que eu separei para tentar montar esta lista eram os nomes curtos e as grafias diferentes. O FEELS ficaria bem num noite com FEWS, NOTS, OMNI e Paws. O FEELS é de Echo Park, Califórnia e o 2º álbum deste quarteto saiu em Fevereiro de 2019, se chama “Post Earth”. A percussão incial lembra Elastica (Wire?) e depois os vocais tem um quê de Black Sabbath. A produção ficou por conta de Tim Green (ex-Nation of Ulysses) o que fortalece ainda mais o lado “post-punk” do lançamento.
Omni
O álbum mais recente deste trio de Atlanta foi lançado pela Sub Pop, o que parece estranho pois é difícil achar coisa “post-punk” na gravadora de Seattle. Omni é formado pelo guitarrista e ex-Deerhunter Frank Boyles com o baixista/vocalista e ex-Carnivores Philip Frobos. As influências de Devo e Television são claríssimas nesta contagiante “Sincerely Yours”.
B Boys
Esse trio do Brooklyn traz as mesmas influências do Omni mas mistura uma coisa mais Gang of Four/Fall no vocal, que pode até agradar aqueles que gostam de Pavement. Chamaram atenção do selo novaiorquino Captured Tracks depois de uma longa turnê abrindo para o Parquet Courts. Mas legal mesmo são os títulos dos álbuns: “Dada”(2017) e “Dudu”(2018). O próximo? Dodô.
bdrmm
Eu vi um show deste quinteto na mesma noite que eles foram contratados pelo selo londrino Sonic Cathedral. Boas guitarras barulhentas que poderiam entrar numa playlist shoegazer fácil mas o baixo marcadão à la The Cure e Joy Division nos faz lembrar da importância da primeira para o nascimento do gênero que consagrou my bloody Valentine.
Russian Baths
A dupla novaiorquina faz o mesmo que o bdrmm, só que juntando as pontas do outro lado do Oceano, fazendo o link entre Mission of Burma e Sonic Youth com o Interpol e Walkmen. O debut “Deepfake” é outro que ficou fora dos melhores de 2019 por muito pouco. Fãs de A Place to Bury Strangers, Telescopes e Sonic Youth vão gostar.
Empath
Trio da Philadelphia lançou seu debut ano passado pelo selo Fat Possum. Derivam para o lado barulhento de um Th Faith Healers e até um Swirlies. A voz doce de Catherine Elicson (guitarras/vocals) se mistura com 2 teclados e bateria no meio de boas barulheiras.
Snapped Ankles
Existe desde 2011 e é de Londres. Talvez seja a banda desta playlist que mais encarne o termo post-punk, pela mistureba bem dosada de punk, eletrônica, kraut e outras doideiras. “Tailpipe” cabe ali entre um Clinic e um Talking Heads.