Talvez você não conheça nenhuma delas ou talvez nem se lembre mais. Les Savy Fav tem álbuns bem legais lançados nos anos 2000. E o Woodentops colocou muitas minhocas na minha cabeça lá no fim dos anos 80. As duas lançaram singles e clipes agora no começo de 2024 e ensaiam uma discreta volta.
O Les Savy Fav surgiu em Rhode Island em 1995, gravou 3 discos mais na praia HC de Fugazi e Jawbox depois avisou que ia parar por uns anos. Realocados no hipster Brooklyn, voltaram em 2007 com a corda toda e lançaram seus dois melhores álbuns: “Let’s Stay Friends” (2007) e “Root for Ruin” (2010). De uma maneira meio troncha, encaixaram a banda no no-wave novaiorquino do começo do século, perto de Strokes, Walkmen, Bloc Party e LCD Soundsystem.
Talvez faça algum sentido, as guitarras são tortas igual, a influência maior é o post-punk inglês dos anos 80. A música mais conhecida é essa:
Agora eles acabaram de lançar esse single que eu gostei. O clipe faz uma brincadeira com o famoso vídeo do Bob Dylan mostrando cartões com a letra de “Subterranean Homesick Blues”:
O Les Savy Fav faz uma pequena turnê pela Inglaterra em Maio e depois toca no Primavera Sound de Barcelona.
A outra que já está ensaiando a volta há um tempo é o Woodentops. Formada em 1983 em Londres, eles lançaram apenas 3 álbuns de estúdio mas uma dezena de singles que viraram compilações. Johnny Marr do Smiths dizia que a única banda que ele temia que pudesse ofuscar o sucesso dos Smiths era o Woodentops. Bowie convidou a banda diversas vezes para abrir suas turnês em meados dos anos 1980.
O disco mais legal, “Giant”, chegou a ser lançado no Brasil pela Stilleto (que distribuiu Felt, Cocteau Twins, Pin Ups, Joy Division, The Smiths, Sonic Youth, my bloody Valentine entre outros) e foi originalmente lançado em 1986 pela Rough Trade.
Deste disco, o hit “Good Thing” era bastante usado como trilha sonora nos programas de surf que passavam na TV na época. Era nestes programas que se descobria muita coisa numa época sem internet, sem streaming.
“Good Thing”, como dá para ouvir ai em cima, e quase todo “Giant” é cheio de violões acústicos que devem agradar fãs de Go Betweens e Lloyd Cole & The Commotions. Só que o marcante do Woodentops sempre foi a percurssão acelerada da maioria das músicas. Outro disco que saiu no Brasil, “Hypno Beat”, é ao vivo e lá dá para perceber o ritmo frenético da cozinha do Woodentops. Mas esse disco ao vivo me deixou com várias minhocas na cabeça.
Mal sabia eu, mas a banda começava a experimentar com instrumentos “fora da caixinha” do então chamado rock alternativo, incluindo marimbas, acordeão, trompete e muitos teclados. Me lembro claramente de comprar “Hypno Beat” porque eu amava “Giant” e dançar sem parar com as primeiras faixas que eram versões ao vivo de músicas que eu conhecia como “Well, Well, Well”, “Love Train”, “Travelling Man” e “Get it On”. O ritmo aceleradíssimo da cozinha ao vivo era o que mais me animava.
Só que do meio do Lado A até o final do disco começaram a entrar uns instrumentos que meus ouvidos acostumados a Smiths, Sonic Youth e Joy Division não entendiam. “Why Why Why” tinha um vocal meio rap em cima de teclados que com certeza influenciaram o Inspiral Carpets.
Dali em diante é uma coisa que parece anos 90 (apesar de ainda estarmos em 1988) com setas apontadas para Big Audio Dynamite, Jesus Jones e toda a cena Acid House, marcando inclusive espaço nas nascentes pistas de Ibiza com “Why Why Why”. Me lembro claramente de gostar do começo do disco mas raramente ouvir o Lado B. Ouvindo hoje, é certamente o tipo de show que eu adoraria ir.
Rolo McGinty, o cérebro do Woodentops, deu um tempo na banda no começo dos anos 90 e se tornou Pluto, um conhecido produtor de música eletrônica (que eu não fazia ideia em 1988, mas explica tudo). McGinty mantém as duas produções vivas até hoje. Por isso o Woodentops acabou de lançar este single:
A banda colocou vários remixes desta música em seu Bandcamp e também anunciou um pequena turnê pela Inglaterra.