Acabou de sair o 5º álbum de estúdio do quarteto de Oxford, Ride. “Weather Diaries”, na média, não decepcionou, assim como a maioria dos indies-velhos que estão lançando disco (Jesus & Mary Chain, Slowdive, entre outros). O Luiz Alberto escreveu sobre “Weather Diaries“.
Para saber a opinião do restante dos amigos resolvemos fazer de novo aquele exercício de desapego que é selecionar as 10 melhores da banda. Fizemos isso com o Jesus & Mary Chain. A lógica é a mesma: música em 1º lugar dá 10 pontos, em 2º lugar conta 9 pontos, etc. Daí somamos todos os pontos para chegar à um top 10 definitivo do Ride, que pode ser escutado na playlist no final deste texto.
Pela primeira vez, dois convidados super entendidos aceitaram o desafio: Edinho Cerqueira, um dos DJs mais inspirados do Brasil, responsável por noites sempre muito felizes em inúmeras festas há quase 30 anos, principalmente na capital carioca; e Giulliano Fernandes, vocalista e guitarrista da banda brasiliense Low Dream, também conhecido como Dj Hopper.
O “entendido ” no caso do Edinho vem de lembrar de “Leave Them All Behind” como presença certa em suas discotecagens nas noites nos anos 90 e 2000 (não é à toa que a faixa ficou em 1º lugar na seleção do DJ ). E Giulliano sempre foi fã confesso, desde a época de editor do fanzine Hang The DJ, até as entrevistas como frontman da Low Dream, citando Ride como influência.
Em formatos distintos, veja quais as 10 músicas favoritas do Ride na opinião de Edinho, Giulliano, Rodrigo Lariú, Eduardo Ramos, Luiz Alberto, Fábio Bianchini e Alex Santos.
Giulliano Fernandes (Low Dream / DJ Hopper)
1) Vapour Trail (Nowhere)
Os vocais e backing vocais se misturam e formam uma paisagem onírica musical que é bem retratada no vídeo da música. A bateria muito técnica e quase jazzística combina com um arranjo de cordas muito bem feito. Às vezes eu gostaria que ela nunca terminasse, num repeat eterno.
2) Sennen (pontos para o Nowhere, mas a música é do EP Today Forever)
Uma obra prima melancólica, quase instrumental, do Today Forever EP. Nem faria tanta diferença se não tivessem os vocais. Mas eles estão lá e ajudam a torná-la mais bonita ainda. Uma levada folk que hipnotiza pela linda melodia.
3) Cool Your Boots (Going Blank Again)
Essa música é, sem dúvida, a minha favorita do álbum. A construção da melodia com as palhetadas de fuzz nas guitarras é bem marcante. A letra, como quase todas das banda, é direta e simples.
4) Paralyzed (Nowhere)
Costumava pensar que se o Pink Floyd fosse uma banda indie, eles teriam feito essa música. Ela já começa com um solo de guitarra à lá David Gilmour. Ela tem um break antes de um uma explosão de pedal wah-wah nas guitarras que transforma a música num épico.
5) Leave Them All Behind (Going Blank Again)
A música é praticamente um refrão. Com os vocais marcantes e encharcada de overdrives e fuzz, ela tinha a função de ser realmente o grande hit do “Going Blank Again” e cumpriu o objetivo.
6) Today (idem de Sennen, pontos pro Nowhere)
Mesma forma de construção musical de “Vapour Trail” e “Sennen”. Guitarras cristalinas e arranjos de cordas que criam uma paisagem de calmaria e beleza. Diria que eles foram aperfeiçoando essa forma de composição, que se tornou uma marca da banda.
7) Drive Blind (Smile)
Uma excelente música, mas ainda não diferenciava o Ride das outras bandas da época. É uma música simples e direta, com jeitão de demotape de banda iniciante. Talvez esse seja o recado dela.
8) Unfamiliar (Nowhere)
Uma música marcante e urgente! Ela foi feita para demarcar o território com um baixo pulsante e um tremolo de guitarras que apresentava a banda. Os vocais duplicados já indicavam que o Ride possuía um grande potencial para fazer isso muitas vezes, o que acabou sendo uma marca registrada deles.
9) In a Different Place (Nowhere)
Arrastada e melódica, uma das grandes músicas do “Nowhere”. Essa música influenciou muito na forma de composição da Low Dream, com break para distorções agressivas e volta para a calmaria. Se tornou uma fórmula para muitas bandas.
10) Like a Daydream (Smile)
O grande hit do Ride naquela época. A MTV passava muito o vídeo por aqui. Era a fórmula índie inglesa que funcionava em qualquer pista de dança e nos shows.
Eduardo Ramos
1) Drive Blind (Smile)
2) Like A Daydream (Smile)
3) Twisterella (Going Blank Again)
4) Vapour Trail (Nowhere)
5) Leave Them All Behind (Going Blank Again)
6) I Don’t Know Where It Comes From (Carnival of Light)
7) Moonlight Medicine (Portishead Remix) (pontos para o Carnival of Light , mas saiu neste disco)
8) How Does It Feels (Carnival of Light)
9) Taste (Nowhere)
10) OX4 (Going Blank Again)
Ando criando problemas com alguns correligionários graças a minha teoria sobre o Ride ser uma banda “do segundo escalão da Creation”. Todos os shoegazers foram um grande segundo escalão e a razão deste “estilo” ressoar hoje mais que na época é pelo fato de que, sem uma balança com a acid house e outras maniferstações culturais coexistentes, estes discos passaram por uma segunda fermentação e todas as asperezas foram arredondadas.
Teorias a parte, a verdade é que o Ride tem o seu valor, principalmente na época do primeiro disco e primeiros EPs, onde a banda possuía absolutamente tudo para ser uma das melhores da face da Terra. Seu rebaixamento aconteceu no segundo disco “Going Blank Again”, onde o quarteto simplesmente não olhou para frente, mas sim continou com o mesmo esquema técnico. O que era médio no segundo, virou uma piada no terceiro (com a banda apaixonada pelos Black Crowes e a tal “americana”) e o quarto (porcamente finalizado e sem inspiração alguma). O disco novo tem seus momentos e demonstra a garra da banda, mas deveria ter saido a 30 anos atrás e não agora.
Edinho (DJ)
1) Leave Them All Behind (Going Blank Again)
2) Time Of Her Time (Going Blank Again)
3) Vapour Trail (Nowhere)
4) I Don’t Know Where It Comes From (Carnival of Light)
5) Drive Blind (Smile)
6) Decay (Nowhere)
7) Like A Daydream (Smile)
8) Lateral Alice (Weather Diaries)
9) Twisterella (Going Blank Again)
10) Natural Grace (Carnival of Light)
Ride é uma banda espetacular que não teve o devido reconhecimento no seu auge, com o álbum “Going Blank Again”. A mistura perfeita de psicodelismos 60´s e 80´s (travestido de roupagem shoegazer) com influências mod e do rock californiano, nos brindam com canções brilhantes.
Alex Santos
Bem, sou o mais novo da turma então não vivenciei muitas coisas com tanta intensidade. Infelizmente! O Ride foi uma baita descoberta pra mim por volta de 98 ou 00 e graças a eles, consegui me abrir para o rock britânico. Entretanto, não é daquelas bandas que figura na minha lista de favoritos – daqueles que quero ter todos os discos – mas é fundamental ter algum álbum deles na minha estante. Os prediletos da casa são “Nowhere” e o “Tarantula” pois, nos outros, gosto de algumas canções específicas. Talvez a falta de concisão das músicas seja um detalhe importante para eu não ter me prendido. Enfim, vamos a lista:
1) Seagull (Nowhere)
Faixa de abertura do disco de estreia que chega com os dois pés na porta e diz “aqui é Ride nessa p****”. Fico a pensar como foi a reação do Alan McGee quando os ouviu pela primeira vez e, mais ainda, quando o disco chegou ao conhecimento da galera.
2) Vapour Trail (Nowhere)
Carrego uma memória afetiva com esse som. Mas indo um pouco além, a música reflete bem a mensagem da capa do disco – mar vasto, profundo, caótico sob uma aparência tranquila e forte – que também estabelece as características da banda.
3) Twisterella (Going Blank Again)
Em qualquer celebração burguesa (casamento, festa de 15 anos, etc…) deveria tocar essa música, ao invés da valsa. Sem mais!
4) Taste (Nowhere)
Essa é aquela canção safada que colaborou para a minha compra do “Nowhere” mas que não estava lá. Faixa bônus em algumas edições em cd e que anima meu astral toda vez que escuto.
5) Grasshopper (Going Blank Again)
Certa vez um amigo postou no facebook que o baterista Loz Colbert o inspira muito e é sua maior influência. Ouvir essa música, é entender perfeitamente o sentimento dele. Passagens e tempos alternados com muita frequência. Isso, sem falar nas variações de notas. Mestre!
6) Mary Anne (Tarantula)
Se tem uma coisa que amo nas composições é quando eles acrescentam algum instrumento inesperado. Nesse caso, a percussão faz a melancolia dessa música se converter em algo esperançoso e pacífico.
7) Trip Down a Ronnie Lane (Tarantula)
Essa música só faz eu querer saber quem é Ronnie Lane. Tenho uma compaixão por ele sem saber quem é, o que foi e por que ele entrou nessa. As guitarras só reforçam meu interesse.
8) Weather Diaries (Weather Diaries)
Apesar de ser um disco bem produzido e a banda reafirmar sua técnica, não curti. Entretanto, é a faixa determinante do álbum. Aqui, encontro o equilíbrio do que a banda foi e o apontamento de onde a banda seguirá.
9) Making Judy Smile (Going Blank Again)
Reconstrói todo um cenário o qual eles (possivelmente) se inspiraram… Beatles, The Who, Hendrix, Woodstock, Rolling Stones…tudo aí!
10) Like A Daydream (Smile)
Bem, tá aí um ritmo que me agrada! Você escuta e logo se envolve no caos de guitarras, dissonâncias, batera empolgante e pira mais ainda quando vc nota que a própria banda está contagiada por esse caos que ela provoca. Basta assistir o clipe pra confirmar.
Luiz Alberto Moura
Não dá pra colocar 10 músicas do Ride numa lista. Não há como colocar “aquela” na frente “daquela outra”. Todas as que serão citadas dividem um espacinho no primeiro lugar no meu coração. Mas já é uma lista, vou de motivos até “não musicais” para enumerá-las.
1) From Time to Time e I Don´t Know Where It Comes From (Carnival of Light)
Dizem que gente que escuta essas “músicas esquisitas” gosta de ser sempre “do contra”. Então, vou ser mais ainda do contra começando com DUAS músicas de um dos discos mais subestimados do Ride, o “Carnival of Light”. Esqueçam essa bobagem de “Carnival of Shite”. É um discaço e tem duas das minhas favoritas: “From time to time” e “I don’t know where it comes from”. Sai a parede de guitarras e entram violões, hammonds e mais melodias.
3) Mouse Trap (Going Blank Again)
Ainda no pódio vem “Mouse trap” por um simples motivo: fez parte do set list da minha primeira banda, o grandprix, no show de estreia da gente, em Juiz de Fora. Sempre fui apaixonado pelos vocais e ela serviu de inspiração pra muita música nossa que veio a seguir.
4) Vapour Trail (Nowhere)
Depois, não tem como fugir muito. É minha máquina do tempo e me leva direto pros anos 90 de novo. É começar o “First you look so strong” pra vir à minha cabeça o clipe. Nostalgia.
5) Leave them all behind (Going Blank Again)
A minha abertura de show preferida dos últimos tempos. Inesquecível ver o fundo de palco com RIDE em letras garrafais e de repente começa o teclado. Foram muitos anos esperando pra ver esses caras ao vivo.
6) Twisterella (Going Blank Again)
Já tive alguns “bons momentos” na pista de dança da Maldita ao som dessa música. Além de ser uma pérola que não envelhece.
7) Taste (Nowhere)
Eu sempre digo que o Reading Festival de 92, que passou na TV Bandeirantes (!!!) em 93 foi um divisor de águas pra mim. Saí do grunge e caí de cabeça no shoegazer e “Taste” é desse show.
8) Sennen (Nowhere)
Não foram poucas as vezes que eu (tentei) imitar aquele dedilhado da base. Bom, eu e meio mundo do Britpop.
9) Paralysed (Nowhere)
Meu sonho sempre foi fazer um refrão daqueles. Óbvio que eu falhei em todas as minhas tentativas.
10) Lannoy Point (Weather Diaries)
Para o “último” lugar, escolho uma do disco novo. Como menção honrosa. “Lannoy Point” abre com muita honra o disco e me fez pensar imediatamente quando a ouvi da primeira vez “esse é o Ride se eles tivessem surgido em 1984″. Alguma do “Tarantula”? Não, obrigado. Fiquemos com as boas lembranças.
Fabio Bianchini
1) Sennen e Today (ambas contam pontos para Nowhere, mas saíram no EP Today Forever)
3) Vapour Trail (Nowhere)
4) Seagull (Nowhere)
5) Taste (Nowhere)
6) Chelsea Girl (Smile)
7) Leave Them All Behind (Going Blank Again)
8) In A Different Place (Nowhere)
9) Mouse Trap (Going Blank Again)
10) Like a Daydream (Smile) e Weather Diaries (Weather Diaries)
Essa é daquelas listas em que bate o paradoxo: simplesmente enumerar as melhores faixas sem mais considerações ou tentar uma balanceada? Porque os quatro primeiros EPs e o primeiro álbum do Ride são tão lindos que iam acabar loteando a lista toda, fácil.
Mas tem muito mais pra pensar do que só branco e preto; ia parecer que o que vem depois é fraco, o que seria uma tremenda injustiça; o “Going Blank Again” passou anos e anos sendo o meu preferido deles e presença nos Top 10 da História do Mundo (sdds juventude, queria que a vida pudesse ser como uma fotografia). Aí o que está feito está feito hoje, a gente dá o jeito que dá e a lista ficou assim.
Rodrigo Lariú
1) Like a Daydream (Smile)
Além de ser uma das minha favoritas em “Smile”, assistir ao videoclipe numa coletânea em VHS da Creation definiu muita coisa. A banda tocando, clipe em preto e branco, menina gritando, um jeitão meio blasè de Jesus & Mary Chain e Velvet Underground.
2) Taste (Nowhere)
Minha preferida do disco, um aperfeiçoamento da urgência que o “Smile” trazia, só que aqui com uma produção mais bem acabada.
3) I Don’t Know Where It Comes From (Carnival of Light)
A letra fala de alienação e paralisia e funciona perfeitamente para os dias de hoje. E a música, com seu coral infantil e teclados seventies, reclama que o quê toca no rádio é shyte… Durante um bom tempo, era essa a música do Ride que eu tocava nas minhas incursões como DJ.
4) Chelsea Girl (Smile)
Provavelmente a música que me apresentou à banda em alguma fita cassete lá no início dos anos 90. Dos 1:55 ao final está a definição perfeita de como usar um pedal wah-wah. E se você estiver na pista, o DJ têm que ligar a luz estroboscópica para a coisa toda ficar completa.
5) Leave Them All Behind (Going Blank Again)
A primeira e única vez que eu vi a banda ao vivo, em 2016, o show começou com essa música. E não há introdução melhor para um disco, para um show: deixe tudo para trás, deixe fluir.
6) Vapour Trail (Nowhere)
Hit das pistas indies, ótima para air guitar ou air drums, o que você preferir.
7) Seagull (Nowhere)
Quando se definiu que o Ride sempre conseguia escolher as melhores músicas para abrir os álbuns. Isso se repetiu até o “Going Blank Again”.
8) Time of Her Time (Going Blank Again)
Não sou músico então não sei explicar tecnicamente mas o que eu sempre adorei no Ride era a cozinha, especialmente a bateria (né Cadu?). E essa música confirmava isso pelo 3º disco seguido.
9) From Time to Time (Carnival of Light)
A ladeira começou a descer para o Ride nesse disco, mas entre as 4 ou 5 que se salvam, eles mandaram muito bem. Esta é uma delas, mesmo com seus elementos de Lynyrd Skynyrd.
10) Cali (Weather Diaries)
Esse disco novo é bom mas não chega nem perto de “Smile”, “Nowhere” e “Going Blank Again”. Eu quis de propósito ignorar “Tarantula” que é provavelmente um dos piores discos de uma banda boa de todos os tempos e incluir pelo menos uma do disco novo só para reforçar esse ponto. “Cali” fala de verão, surf, Califórnia e achei que dava para forçar a barra num top 10 do Ride. “Charm Assault” é a música que ficou na minha cabeça, mas ainda não me convenci de que ela é boa o suficiente. “Cali” não agride.
Obs.: o EP “Today Forever” saiu antes de “Nowhere” mas para efeitos de discografia, contamos como “Nowhere”.
Obs2: “Smile” é na verdade uma compilação dos primeiros EPs do Ride que foram lançados em forma de mini álbum. Também o consideramos como um disco cheio na votação.