I Hate Rock´nd´Roll
Claro que todo mundo aqui no midsummer madness parou para ouvir o novo disco do Jesus & Mary Chain. Mas o Luiz saiu na frente e escreveu a resenha. A gente então resolveu fazer exercício de desapego e listar as 10 prediletas de cada um. Alex Santos, Marcelo Colares, Rodrigo Lariú, Du Ramos e Fabio Bianchini fizeram suas listas.
Foram 32 músicas (ou seja, há consenso) que resultaram nesta discoteca básica (a playlist no final da página). O critério para ordenar as músicas foi o seguinte: 1º lugar na lista de alguém garantia 10 pontos à música, 2º lugar garantia 9 pontos e assim sucessivamente. Cinco músicas entraram em três listas: “Sometimes Always”, “Some Candy Talking”, “Far Gone And Out”, “Darklands” e “Cracking Up”.
Rodrigo Lariú
1- Taste the Floor (Psychocandy)
É absurdamente difícil não listar as músicas do Psychocandy num top 10. Por mim o álbum inteiro representaria bem o que J&MC significa pra mim. Qualquer uma da tríade serra-elétrica-com-levada-surf exemplificadas em Taste the Floor / The Living End / In a hole poderia ocupar este lugar. Fico com Taste the Floor.
2- Black (Munki)
Não é Teenage Fanclub, mas poderia ser. Já pensou numa super banda escocesa com os Reid, Blake, McGuinley, McDonald e Love, tocando clássicos da Motown? Eu penso nisso sempre que ouço Black, a minha música preferida do J&MC depois da tríade do Psychocandy
3- Head On (Automatic)
Eu e o Pixies acham esta uma das melhores músicas dos escoceses. A cara feia que eu fiz quando ouvi Automatic pela primeira vez, achando que o J&MC tinha cedido à música eletrônica, começou a se desfazer aqui. E a versão do Pixies não é melhor, é somente muito boa.
4- Something I Can´t Have (Stoned & Dethroned)
Essa música podia estar no Honey’s Dead e não no Stoned & Dethroned. Uma década depois do surgimento, os Reid ainda sabiam qual era o pedal de guitarra a ser usado. Essa música dá ao disco uma pilha que nenhuma banda grunge conseguia.
5 – Sometimes Always (Stoned & Dethroned)
É uma das melhores baladinhas dos Reid. E para machucar os corações, eles ainda chamaram a peguete do William de 1994, Hope Sandoval, do duo Mazzy Star. O clipe gravado numa paisagem norte-americana clássica é o melhor lugar para você ouvir este diálogo de reconciliação de uma xuxuzinha linda com um roqueiro gordo e beberrão.
6 – Drop (Automatic)
Poderia ser a Moe Tucker tocando bateria e o Leonard Cohen poderia ter escrito uma letra assim.
7 – Some Candy Talking (Darklands)
Começa como uma baladinha e vai acelerando … e arrepia. “i want some of that stuff“. Passa um vídeo na minha cabeça, em preto e branco, imagens borradas, frio, chuva e musas.
8 – Far Gone And Out (Honey´s Dead)
É a batida perfeita para qualquer pista, para qualquer indie guitar hero (nunca produzido) e para qualquer air guitar. Tente dançar de olhos fechados, com luzes estroboscópicas a mil, algumas doses de destilado na cabeça e som extremamente alto. A parada que a música dá no meio te leva à Marte e de volta em poucos segundos. Pode berrar “hey hey hey!”
9 – All Things Pass (Damage & Joy)
Estou sendo generoso. O disco novo não é ruim, ele apenas parece uma colagem do gênero que o J&MC criou para si próprio. E o executa muito bem. Essa música ficou na minha cabeça, principalmente pelo refrão irônico:
All things must pass
but not too fast
I have take a vow
I have taken a vow
To prove myself
To find me
I’m regrettin’ it now
I’m regrettin’ it now
‘Cause I found me
10 – In a Hole (Psychocandy)
Depois de tanto ouvir todas as músicas do J&MC, favor voltar à música nº 1 desta lista.

Eduardo Ramos
1- Sidewalking (Extended) (Automatic)
A versão single é apenas o trailer do longa onde William tenta reescrever o manual da guitarra pela segunda vez em sua carreira e inventa este híbrido de blues / eletrônico / noise que marcou tanto esta fase do “meio” do Jesus. Mais a ver com PIL do que Velvet.
2- Reverence (Honey’s Dead)
Oposto de Sidewalking: a versão single funciona melhor do que a versão completa. 3:39 minutos em que os irmãos Reid reclamam seu trono perante a geração que shoegazer / noise. Porta de entrada da geração MTV para este estranho mundo.
3- Upside Down (7″ Versão Original – single)
Porque colocou a Creation no mapa. Gravada no dia seguinte do segundo show da banda em Londres por Alan McGee, Pat Collier e Joe Foster, com todos estes clamando a sua parte neste single que facilmente é um dos 5 mais importantes dos anos 80. Tudo que veio na sequência soa pálido e me faz lembrar da frase de Davy Henderson do Fire Engines (influência clara do Mary Chain): todas as bandas deveriam acabar depois do primeiro single.
4- Darklands (Darklands)
Parada necessária e belíssima. Historicamente a banda chegou em seu limite da loucura, mandou seu Malcolm McLaren (McGee) para casa, engordou (“agora nós temos dinheiro para tomar sorvete“) e trocou o fuzz pelo terceiro disco do Velvet. Obra prima.
5- Cracking Up (Munki)
Este disco novo parece churrasco que sobrou requentado: não rola. O último momento do Jesus foi Munki e ponto final. A lenda é que os irmãos nem na mesma sala ficaram… Quem sabe eles deveriam brigar novamente.
6- Sometimes Always (Stoned & Dethroned)
Influenciados pelos duetos de Lee Hazelwood, os irmãos Reid buscaram a magia da mistura de uma voz feminina e masculina, mas a verdade é que Jim é um mero coadjuvante quando Hope Sandoval começa a cantar.
7- In A Hole (Psychocandy)
Mais distorção parece chamar mais distorção e quase que sem imaginar nenhum limite. O grande momento de Psychocandy.
8- Come On (Stoned & Dethroned)
Stoned And Dethroned é o grande disco perdido da banda: foi o que mais vendeu, o que teve o maior hit comercial, mas nunca figura entre os melhores porque é o mais calmo.
9- Happy When It Rains (Darklands)
Melhor título / Melhor Chuva
10- Far Gone And Out (Honey’s Dead)
Honey’s Dead só perde para o primeiro disco.
Marcelo Colares
1- Hardest walk (Psychocandy)
Parecia simples fazer uma música perfeita. Uma das primeiras músicas que eu consegui tirar os acordes de ouvido, todos os três. Aquela coisa de começar com o vocal puxando os outros instrumentos, a dinâmica quiet/loud, tá tudo ali. É onde se aprende que o número de notas de um solo de guitarra também pode ser três.
2- Deep one perfect morning (Darklands)
“And my thoughts are turning backwards/ and i’m picking at the pieces/ of a world that keeps turning
the screws into my mind/ and i can see a wide world for me to tame”
3- Don’t ever change (Darklands)
Solo de guitarra na música toda não é sempre que funciona. A não ser quando se trata de um milagre.
4- Between planets (Automatic)
No show do Canecão no Rio em 29 de junho de 1990, na “Automatic Tour” (meu ingresso ai em cima), eles não tocaram essa. Mas tocaram “Head On”, “Halfway to Crazy”, “Here comes Alice”, “Gimme Hell”, e tantas outras, naquele que foi o 1º show gringo da minha vida, que contava à época míseros 16 anos.
5- Drop (Automatic)
E não é que eles tinham uma faceta meio U2?
6- Why’d you want me (Honey´s Dead)
I gave myself to drink and drugs and filth
Why’d you care why’d you want me there
I see the gloom and doom in every room
You see the light in every darkened night
So why’d you care why’d you want me there
7- Fizzy (Munki)
Já me falaram que parece Cigarettes, por isso nunca esqueci. Falando sério, top 10 do Jesus é pegar todas as músicas deles e pronto: vários empates múltiplos.
8- Black (Munki)
A mais emblemática, a meu ver, de toda a postura “ideológica” da banda.
9- Birthday (Munki)
“I am a bad motherfucker now but I once was cool”
Ainda não ouvi direito o disco novo, mas parece fiel ao caminho aberto umas duas gerações atrás.
10- Crackin’ up (Munki)
“Some said I was a freak, I am freak”
Tem gente que desconsidera as letras, enxergando ali um ponto fraco.
Nessa vida, que bom, há gosto pra tudo.

Fábio Bianchini
1- Upside Down (Psychocandy)
Tá tudo lá, as guitarras, a base monótona, os vocais de Elvis que não consegue disfarçar sua timidez, a iminência de explosão. Mas ao mesmo tempo, é tudo iminência, tudo promessa, tudo possibilidade.
2- Never Understand (Psychocandy)
Tem alguma coisa de muito, muito, romântica na maneira como as microfonias e distorções, agudas, aparentemente confusas e frágeis, mas também decididas, dançam por cima do ritmo repetitivo, meio industrial e inclemente, do baixo e bateria.
3- Head On (Automatic)
Taí uma que não precisa explicar, né? Lembro daqueles loucos anos em que parecia que toda banda tocava ela.
4- Darklands (Darklands)
Tralalá, mostrar que sobrevive sem microfonia, patati, evolução musical, patatá, não ser só um truque, sou bem a favor de tudo isso. Mas o lance MESMO é: que música bonita, bicho. A parte do “I want to go, I want to stay“, cruzes.
5- Between Planets (Automatic)
Tô quase dizendo que o New Order não tem nenhum solo New Order tão massa quanto o dessa música. E ela tem todo um negócio de COMPELIR, não sei qual o substantivo correto, algo de movimento mesmo, ao mesmo tempo em que rola o lance motorik.
6- Something I Can’t Have (Stoned & Dethroned)
É engraçado essa nunca ter a moral que merece. Não sei se foi a aparição só no meio duma coletânea com capa sem graça, não sei se era o momento pós-um monte de coisa (grunge, shoegazer), pré-outras coisas, não sei se é culpa nossa. Mas, enfim, que musicão.
7- Some Candy Talking (Psychocandy)
Tem um lance meio de inércia nela, como se fosse a primeira vez que acusaram contragolpe, começa com pura voz de ressaca e aí vai se empolgando. Bom, quando a gente tem vinte e poucos anos as ressacas curam mais rápido mesmo.
8- You Trip Me Up (Psychocandy)
O que é aquele solo? E também deve ser a música em que as microfonias entram mais bonito.
9- Wish I Could (Stoned & Dethroned)
Tenho UM LANCE com aquela parte do “if we had the time we’d take it, if we had the mind we’d make it“. Periga ser o trecho de música que mais me vem à cabeça do nada quando tô andando por aí. Por pouco que não foi “Never Saw It Coming”.
10- I Love Rock’n’Roll (Munki)
Acho bonitão o lance de pureza, até ingenuidade mesmo, no meio daquela bad em que os caras estavam na época do Munki, de dizer “amo o que eu tô fazendo”, mesmo que né? Adoro as cornetinhas, adoro as frases de guitarra, adoro “I did what I could to save me” e os “you made me, yeah”.
(cacete, acabei tirando fora “Half Way to Crazy” e “About You”)
Alex Santos
1- Always Sad (Damage and Joy)
Bem, essa é uma canção que me lembra aqueles “road movies” e fico com essa impressão de andar por aí sem rumo nem destino…Dizem que solidão/solitude é tristeza mas vai de cada um, não!?
2- Far Gone And Out (Honey`s Dead)
É o tipo de música que anima festa! Toda vez que a escuto, tenho a impressão de ser um cara legal e descolado que curte eventos de gente legal e descoladas.
3- Sometimes Always (Stoned and Dethroned)
Adoro a participação da lindinha Hope Sandoval nessa música! A sensação é de término de relacionamento daquele casal tipo da youtuber Jout Jout e Caio que todo mundo acredita mas simplesmente acaba e ambos ficam com uma felicidade um tanto melancólica.
4- Some Candy Talking (Psychocandy)
Adoro essa!!!! Minha favoritassa!!! Uma melancolia boa…daquelas que você quer curtir sozinho. Entretanto, ela também me dá uma ideia daqueles relacionamentos rockers dos anos 50, sabe? Vespa, praia, vento na cara com a garota, pique-nique…
5- Blues From a Gun (Automatic)
Festa junkie! Sem mais! Gente bonita, descolada, muitos drinks, tóxicos, umas briguinhas, também…Tudo o que uma boa “festa quente” oferece. Aquela cena do “Trainspotting” onde o Begbie joga um caneco de cerveja na pista e acerta alguém combina com essa música.
6- I Love Rock’n’ Roll (Munki)
Quando a festa tá ruim, alguém chega lá e resolve controlar a porra toda! Essa música anima até velório!
7- Darklands (Darklands)
Música de “Sessão da Tarde”. Anos 80 puro! Não sou lá muito saudosista mas essa música me causa um conforto enorme que não sou capaz de entender! Em dias chuvosos então, perfeita! Foster The People ficou legal depois que sacaram discos como o Darklands.
8- On The Wall (Darklands)
Ela é tão sutil e minimalista que não tem como não se sentir íntimo (de introspecção, digo) quando ela toca em qualquer lugar! Essa canção me esclarece a questão de dançar com as paredes do Madame Satã.
9- Cracking Up (Munki)
Definição perfeita para “Juventude Transviada” fazendo analogia, inclusive, com aquele filme clássico com o James Dean! Brigas, confusões, treta com a polícia…rebeldes sem causa!
10- My Little Underground (Psychocandy)
Rolês góticos paulistanos! Alguns que eu não fui por sinal mas que de tanto me falarem é como se eu tivesse ido. Retrô, Armaggedon, Morcegóvia, Madame Satã, Orbital, Dynamite Club, Tramp Club, A Torre…e afins!