Escrever um release para a imprensa é um saco, principalmente nos dias de hoje, onde um dos grandes fatores para a “venda” (melhor dizendo streaming) é uma “historinha”. Não importa se é bom ou não, se não tem uma historinha não tem papo. A historinha deste disco do Dirty Projectors é o fato de que David Longstreth (foto), a.k.a. dono dos Dirty Projectors, não está mais com Amber Coffman.
“Triste”, “disco de separação” e outras associações inundaram todos os textos rasteiros sobre este lançamento e tirando uma relativamente bem conduzida entrevista pelo Pitchfork (com tantas outras “historinhas” como conhecer Kanye/mudar para Los Angeles) esta é a impressão sobre “Dirty Projectors” (Domino), um disco em teoria menor do que realmente é.
A verdade é que David, trocou seu job description de potencial David Byrne para estagiário do Scritti Polliti. Green Gartside, o Longstreth do Scritti, entrou em colapso depois de um show de sua banda ainda na época mais radical de sua carreira. Em um momento “Brian Eno”, na cama pós colapso, uma nova visão de seus próximos passos tomou forma: funk-pop (o mainstream dos anos 80), produção perfeita (em contraste com a estética pós-punk suja dos primeiros singles) e intelectualidade (como por exemplo, citar Jacques Derrida como quem fala sobre os Beatles).
Mais do que mera cópia, o espírito é o mesmo.
O R&B que tanto tangenciou os mais bem sucedidos singles da banda não é apenas uma cor de uma vasta paleta. Mais que a influência da saída de Amber, este é um disco do sul da Califórnia: Beastie Boys, Steely Dan e tantos outros beberam desta água e tomaram este sol na cabeça. Não existe tom de cinza neste álbum.
Enquanto que as músicas mais sincopadas demonstram um apreço pela black music mais futurística da atualidade, os grandes momentos do disco ainda são as músicas mais lentas onde a depressão de um fim de relacionamento acabam tomando conta da narrativa, mas isto é apenas um detalhe, vamos deixar a fofoca de lado.
Como fã da banda, é incrível constatar a crescente deste projeto que a cada disco se reinventa e pula uma casa no tabuleiro. David está na frente de muitos de seus contemporâneos, ao acrescentar o fator “Neil Young” (viradas bruscas/ligar o foda-se). Este disco – desde já – passa a ser um sério concorrente ao troféu dos melhores do ano.
Indicado para quem gosta de...
Disco de separação da dupla David Longstreth e Amber Coffman é muito mais do que um triste até mais. Eduardo acha que é forte concorrente a melhor álbum de 2017