A pergunta veio da Tatiana Guimarães quando começamos a conversar sobre quais seriam os assuntos importantes para o midsummer madness: como nossos amigos escutam música hoje em dia? A pergunta pode ser entendida de várias formas, tipo “aonde você ouve música hoje em dia?” ou “você ainda ouve seus CDs?” ou ainda “como você faz para ouvir bandas novas?” Dai, em vez de olhar pros nossos umbigos, resolvemos por no ar uma pesquisa perguntando tudo isso.
Foram mais de 1000 respostas únicas em pouco mais de duas semanas, através de uma formulário do Google, compartilhado entre os amigos. Foi muito bacana como todos começaram a responder muito rapidamente, como ajudaram a corrigir pequenas falhas e a discutir o assunto.
Uma das maiores falhas deste questionário foi que nós esquecemos de perguntar “Quem são vocês”, o famoso de onde fala / faixa etária / sexo / classe econômica. Por isso, infelizmente não temos a cara do grupo que respondeu. Assim, no chute, eu diria que está dentro da nossa bolha: fala do Brasil, tem entre 20 e 40 anos, unisex (na falta de um termo melhor rsrsrs) e deve ser ABC.
O resultado nós vamos dividir com vocês neste texto. Começamos com o básico: aonde é que você escuta música, em qual suporte? A intenção era entender se os CDs já foram deixados de lado, se a nossa bolha já estava totalmente inserida nos serviços de streaming. As pessoas podiam marcar várias opções e não apenas uma, afinal, ninguém escuta música apenas em um suporte.
Todos 1044 participantes responderam e os dois suportes predominantes incluem o streaming. Curioso perceber que o vinil ficou em 3º lugar mas abaixo da soma absoluta de pessoas que ainda dizem escutar CDs (no computador ou no cd player, somados, 420 pessoas contra 358 no vinil).
Imaginando a predominância do streaming, já fomos logo perguntando se as pessoas pagam pelos serviços premium do Deezer, Spotify, Apple e afins. E a maioria paga, mas numa margem pequena. Significa dizer que de 1044 pessoas, 533 pagam mensalidade num destes serviços. Algo fora da curva pois as informações sobre streaming relatam que o número de pessoas que pagam mundialmente é bem menor que os que usam a versão gratuita (40 milhões de pagantes num universo de 101 milhões de assinantes – dados de janeiro de 2017). Mas não é de se espantar, visto que provavelmente nossa audiência nesse questionário deve ser de fanáticos por música, gente além de curva.
Spotify – 89,1%
Todos os outros – 10,9%
Deezer – 4,12%
Apple Music – 3,55%
A pergunta seguinte era para saber entre os 534 que assinam um serviço pago, qual serviço eles usam e o Spotify ganhou disparado, com aproximadamente 89,1% da preferência. Em segundo lugar o Deezer, com 4,12%, Apple Music com 3,55%, Google Music com 1,87% e o restante com respostas diversas, como Amazon, Groove, Tidal e Napster. Um número baixíssimo de 4 entre as 534 pessoas assinam mais de um serviço pago (Deezer + Spotify, Apple + Spotify, Tidal + Spotify).
A pergunta seguinte, não obrigatória, era para saber se aqueles que ainda não pagam teriam interesse em pagar: a maioria não, mas se somarmos os indecisos e os que assinariam, há interesse. Algumas pessoas que tem serviço pago responderam à pergunta, por isso as 555 respostas.
Entre os que responderam que não assinam um serviço pago de streaming, a principal razão para isso é o preço do serviço (46% de 506 respostas), seguido de 28,7% que relataram motivos diversos, 25,7% que dizem que não tem um cartão de crédito, 15,8% que acreditam que não tem um bom plano de banda larga para usar os serviços e incríveis 3,7% que dizem não saber usar os aplicativos :O
E o domínio do Spotify é absoluto, como mostra o gráfico de interesse acima. Dados de janeiro de 2017 mostram inclusive que no ano passado o Spotify ultrapassou o Netflix em número de assinantes (em inglês, aqui e aqui) quando se leva em conta os aplicativos que não são jogos, por receita (e não por número de downloads).
Outra resposta obrigatória, onde todas as 1044 pessoas responderam, comprova que o CD não é mais unanimidade entre os ouvintes de música: somados os que compram, mesmo que às vezes, temos a maioria absoluta de 50,8% mas os outros 49,2% responderam categoricamente que não compram mais CDs.
Entre os motivos para continuar comprando, demos a opção de resposta livre e 216 escreveram seus motivos, sempre variando em “ter o disco físico de uma banda muito apreciada“, “comprar para ajudar bandas independentes“, ou “quando se trata de uma edição especial“, ou um álbum que só existe neste formato. Outras respostas menos frequentes foram “para ouvir no carro“, “se o preço for baixo” e “por causa da capa“.
Em se tratando do queridinho do mercado, a unanimidade não parece ser assim tão garantida. Apesar de dados recentes que confirmam a tendência de crescimento de vendas do formato, mais da metade disse que não compra vinil. E nesse caso, a bolachona não garantiu nem a maioria absoluta, somando os que compram e os que compram às vezes (53,6% não compram contra 46,4%).
E quem compra podia explicar quais as razões que o levam a pagar pelo formato: quase a maioria das 250 respostas disseram que a decisão depende do preço, da raridade da obra. Quase ninguém citou questões técnicas, que comumente são usadas para valorizar o vinil. Alguns disseram que não tem toca-discos mas compram para ter, outros poucos citaram a palavra “fetiche” para justificar a compra e teve uma pessoa de extremo bom gosto que respondeu: “Se for do teenage fanclub sim ; )”
Ok, perguntamos sobre streaming, CD, vinil… e a música digital, ou o famoso formato digital, via download, que até antes da chegada de Spotify, Deezer e afins, era a absolutamente dominada pela loja da Apple, a iTunes. Você se lembra de comprar discos que na verdade eram apenas bits & bytes? Pois é, vendo o gráfico acima, quase ninguém mais se lembra. Muitos HDs queimados, a falta de apego ao imaterial relegou o formato ao declínio.
Chutando cachorro morto, ainda resolvemos perguntar: “se você marcou que às vezes compra música digital, o que te motiva”? Mais uma resposta livre e a maioria dos 171 aventureiros disse que compra o arquivo digital quando não existe opção streaming ou física, ou quando o preço pode ser decidido por ele próprio e também para “dar aquela força para o artista“.
Bandcamp – 44%
iTunes – 43%
Outros – 33%
(total de 309 respostas, era possível marcar mais de uma opção)
Tá, mas aonde você compra música digital para download? Como a questão era livre, tivemos 309 respostas, certamente somando pessoas do “sim, compro arquivo digital” e pessoas do “talvez”. Neste total, o bandcamp é o favorito por margem mínima. Mais uma amostra do perfil alternativo de quem participou da pesquisa.
Mesmo com a supremacia dos serviços de streaming, quase 80% das 1044 pessoas assumiram que ainda baixam música da internet. Nós não perguntamos se eles baixavam de fontes ilegais mas o gráfico seguinte deixa isso bem claro…
Essa inclusive foi uma “pegadinha” onde aqueles 20% que responderam que não baixam música da internet ficaram confusos, sem saber o que responder… a resposta correta seria “não acho certo baixar” que ficou com 11,07%… Como tivemos 20,1% dizendo que não baixa, deveríamos ter no mínimo a mesma procentagem respondendo que não acha certo… MAS a galera ainda assim usa SIM torrent, pirate bay, troca com amigos e ainda acessa o jurássico Soulseek. E não dá nem pra dizer que estamos na famosa “margem de erro” hehehehehe….
O único empate de todo questionário mostra que blogs e indicações de amigos são a maior fonte de informação das pessoas sobre novidades e lançamentos. A mídia tradicional somada (tv, rádio, jornais e revistas) não conseguiu passar do 6º lugar na preferência das pessoas, com 44% das respostas. Antes deles, YouTube ficou em 3º, sites oficiais das bandas em 4º e até os serviços de streaming superam a mídia tradicional. Vale ressaltar que esta pergunta permitia várias respostas…
Destes 1044, quase novecentos conseguiram dizer quantas novidades ou lançamentos escutaram em 2016: a maioria respondeu algo em torno de 20 a 30 álbuns, com alguns malucos enumerando mais de 50 e outros até mais de 100 discos!!! Dá pra ver que realmente a galera que respondeu ao questionário vive de música.
Quem ouve, vive com música, mas e quem vive de fazer música? Sim, perguntamos na sequência quantos destes álbuns que eles disseram ter ouvido, foram efetivamente comprados, em qualquer formato (físico ou digital). E a resposta esmagadora foi nenhum, zero, nadica de nada entre as 969 respostas. 🙁
Os poucos que compraram algum álbum que ouviram em 2016 não passaram de uma média de 8 a 10 discos por ano. Isso nos levou à fatídica pergunta:
Música virou ar, água. Mesmo sendo fonte de diversão e prazer, a grande maioria acha que música tem ser gratuita.
Não é uma constatação interessante para quem pretende viver de música, levando em consideração o mercado brasileiro. As boas notícias são que as pessoas gostam de comprar produtos em shows e que amam compartilhar novidades. Estas são as outras informações interessantes que a pesquisa trouxe:
A pergunta seguinte (e que não gerou gráfico) era para saber entre os que responderam “sim, eu compro outros produtos da banda em shows”, que tipo de merchandise você prefere comprar: 37% disseram preferir qualquer tipo de merchandise do artista menos CD enquanto 26% disseram que preferem o CD. Ainda assim 25% disseram que compram camisas, posteres e adesivos junto com CDs, 19% disseram comprar todos estes produtos e também vinil mas não CD.
Uma resposta livre que ficou bem confusa de compilar foi um pedido de sugestão de preços para CDs, vinis, download digital, camisas, etc. Apenas 444 pessoas responderam a aparentemente as pessoas entendem que CD deve custar uma média de R$15 a 20, vinil acima de R$50 é caro, camisa pode chegar até R$40 mas depende da qualidade; e uma centena de outras respostas diferentes. Prometemos fazer uma pesquisa exclusivamente sobre preços para resolver essa falha.
Para finalizar, o mmrecords.com.br ofereceu a todos que responderam a pesquisa até o final, R$10 de desconto em qualquer produto da lojinha. As vendas refletiram os dados. Obrigado!