A um ano atrás, em 24 de Janeiro de 2019, fui pego de surpresa com a notícia do falecimento do Sineval Almeida. Eu nunca encontrei o Sineval pessoalmente mas sempre admirei o trabalho dele. Deu uma angústia não o ter conhecido ou não ter escrito algo enquanto ele estava vivo.
Na mesma época, no começo de 2019, outras pessoas importantes faleceram, algumas em situações ainda mais inesperadas, algumas noticiadas e outras não. Na intenção de não deixar passar sem registro, mandei email para alguns amigos e amigas do Sineval na tentativa de escrever uma pequena mini-biografia de alguém que eu admiro bastante.
Os emails são do ano passado e eu peço desculpas por ter demorado tanto.
Vida longa à arte de Sineval Almeida!
(DANI RAMOS)
Sine nasceu em Brasília, no Gama, em 12 de outubro de 1970, às 20h45. Mudou com a família para Jardinópolis aos 5 anos. Saiu de Jardinópolis em 2009, quando foi para Londres e em 2011 se mudou para Ribeirão Preto.
No primário estudou na escola Américo Salles Oliveira. Encontrei uma carteirinha de estudante da 3ª série e só tirava A e B! Soube pela mãe que mudou para o colégio Professor Plínio Berardo porque era perseguido pela professora de Geografia. Formou-se em Publicidade e Propaganda em 2004 pela Faculdade Barão de Mauá em Ribeirão Preto.
(MARCIO DESTITO)
Ele nasceu em Brasília e mudou-se para Jardinópolis com os familiares devido a uma necessidade profissional do pai.
A primeira vez que encontrei Sine foi na primavera de 1989, quando um velho amigo deliquente, fã de histórias em quadrinhos, o apresentou. Ele era um sujeito magro e esquisito, que passava boa parte do tempo desenhando e ouvindo músicas dentro do seu quarto. E eu não conhecia nada sobre música. Com o tempo, passei a pegar emprestados os álbuns da sua coleção e nossa relação de amizade foi se intensificando. Qualquer desenho que fazíamos, mostrávamos um para o outro. Logo estávamos procurando bandas por diversas lojas alternativas e conhecendo pessoas da cena musical independente.
(ROGÉRIO DACANAL)
Conheci o Sineval em 1990 através de minha irmã Cristiani que estudava com ele e com o Alex. Ele era 7 anos mais velho que eu, frequentava a casa do Nico e fomos tendo mais contato com o passar do tempo. Ele, assim como eu e o resto da turma desenhava e gostava de revistas em quadrinhos e boa musica, então com o passar dos anos fui crescendo e frequentando sua casa. Quando eu e outros amigos íamos à sua casa, às vezes ganhávamos algum desenho dele e saíamos alegrinhos, alguns destes desenhos eu tenho até hoje.
Entre os anos 96 a 99 saíamos todos os finais de semana em Jardinópolis e Ribeirão Preto, quase sempre éramos eu, ele e o Marcio.
(LUIZ GUSTAVO PAULA)
Conheci ele em Jardinópolis, em meados de 1992, através de um amigo. Tínhamos uma paixão em comum: revistas em quadrinhos. Fiquei sabendo que ele estava vendendo algumas de sua coleção e fui até ele. Depois disso, criamos um círculo de amizade com vários amigos que tinham em comum o gosto por HQs e rock alternativo.
Ele era uma pessoa muito reservada, tranquila, gentil e sincera. Sempre foi um amigo muito leal. Tinha muito senso de humor e era inteligente pra caramba. Nos divertíamos muito e dávamos muitas risadas nos ensaios da banda e mesas de bar.
(GUSTAVO FIORI GALLI)
Sineval me contou que nasceu no Gama, cidade satélite de Brasília. Não sei exatamente quando ele se mudou para Jardinópolis, cidade vizinha a Ribeirão Preto, mas o Luiz Gustavo, que fundou o Pale Sunday junto com ele, diz que eles se conheceram em 1992. Sineval se mudou definitivamente para Ribeirão Preto depois que voltou da segunda temporada em Londres, creio que por volta de 2012.
(TIAGO FUZZ)
Ela era bem introvertido, mas muito simpático. Gostava muito de música, vinis, zines, quadrinhos, ilustração, cinema, cultura pop em geral. Era um verdadeiro “indie” hehe. A gente sempre se reunia pra tomar cerveja e falar de música. Nunca se considerou um músico de verdade, mas ele tocava violão e compunha coisas lindas.
Ele sempre estava com um caderninho de desenhos, ilustração era a vida dele. Nos caderninhos sempre tinham desenhos e frases que ele criava.
(DANI RAMOS)
Nos conhecemos em um evento chamado “Cantos Soturnos”, no show do The Cure cover, em uma sexta-feira 13 de Agosto de 2004. Na época, eu não morava no Brasil, estava de férias, e fomos apresentados por um amigo em comum que disse que ele tinha uma banda que eu ia adorar. Assim que disse seu nome eu já perguntei se ele era baiano. E não é que a avó dele nasceu na Bahia!
Depois de uma noite conversando, ele me pediu um beijo. Eu neguei, claro. Afinal, beijo não se pede, acontece. Mas trocamos telefone e uma semana depois nos encontramos. Semanas atrás, mexendo na carteira dele encontrei parte do ingresso desse show, com meu telefone anotado.
Extremamente inteligente e talentoso. Sempre foi de falar pouco, mas nunca deixou de dar sua opinião. A pessoa mais generosa e sensível que conheci. Tinha interesse por todo tipo de arte: literatura, cinema, música, história em quadrinhos e gibis, design, arquitetura. Era muito reservado, tímido, parecia mau humorado, mas com quem conhecia sempre mostrava seu humor sarcástico.
(JULIANA ARAÚJO)
Conheci o Sine em 2009, em Londres, numa comunidade de indie (não lembro qual) e ficamos muito próximos, inclusive moramos juntos.
O Sine era a gentileza em pessoa. Era educado, sensível, delicado, às vezes engraçado e às vezes reclamão. Mas sempre leve. E bem introspectivo. No geral falava pouco mas comigo falava bastante, conversávamos muito.
Fizemos figuração em um filme de Bollywood aqui em Londres e o set era bem cansativo, a gente falava muita besteira e ria muito. O lugar favorito dele em Londres era Brick Lane. Ele ia pra lá passar as tardes, desenhar e ver a vida. Impossível ir lá e não lembrar dele. Uma vez ele foi lá e o Woody Allen tava gravando. Ele passou a tarde acompanhando o set.
Ele ia pra lá passar as tardes, desenhar e ver a vida.
Quando voltei ao Brasil meu vôo era umas cinco da manhã. O Sine foi comigo de metrô tarde da noite e passou a madrugada comigo em Heathrow, esperando o vôo.
Ele gostava de ir a show, de ouvir música, de desenhar. Amava Londres e passear por aqui. Estava nos planos vir me visitar em 2018 mas com a doença ele adiou e planejava vir em 2019, pra ficar na minha casa mesmo.
(GUSTAVO FIORI GALLI)
Sineval era um cara muito autêntico. Muito. Essa era a maior qualidade dele, sem dúvidas. No geral ele era tranquilo, falava baixo, ficava na dele. Quem não o conhecia podia até pensar que se tratava de timidez ou arrogância, mas longe disso. Em diversos momentos ele estava em outro mundo, pensando longe. Algumas vezes ele falava sobre isso. Era um cara doce, muito querido, um amigo carinhoso. Era muito engraçado, entre nós quatro sempre rolavam tiradas e citações de “Hermes & Renato” a “Chaves”. Nos divertíamos muito como banda. As viagens eram legais, sem crises, todo mundo feliz e curtindo um monte. Sempre.
FANZINES
(LUIZ GUSTAVO DE PAULA)
Me lembro de três deles. Os primeiros foram Capitão Cri-Cri e Alice’s Dirty Head, ambos em parceria com o Márcio Destito. Depois ele continuou sozinho com um zine chamado “Psycho”. Todos lançados nos anos 90. O Sineval acompanhou de perto todo movimento da música independente nacional do início da década de 90. Ele esteve na primeira edição do festival Juntatribo, em Campinas.
(MARCIO DESTITO)
Quando os primeiros fanzines caíram em nossas mãos, nós enlouquecemos. O Capitão Cri-Cri (91) foi o primeiro fanzine que lançamos. No interior do fanzine, havia um encarte dedicado a bandas, discos e fitas cassetes. Gostamos tanto do encarte que dele saiu algo mais elaborado, o fanzine Alice’s Dirty Head (96). Um fanzine em formato de gibi norte-americano, capa de papel kraft contendo ilustrações, histórias em quadrinhos curtas (uma ou duas páginas), criadas por Sine, sobre relacionamentos loucos e matérias sobre bandas.
O fanzine durou uns dois números e foram centenas de cópias para o Brasil e para o exterior. O terceiro nunca chegou a sair, apesar de existir material suficiente para lançá-lo. Sine não parou as atividades como ilustrador. Estava sempre produzindo coisas novas e colaborando com outras publicações. Depois de um certo tempo criou e lançou o Psycho (96), um fanzine pequeno de conteúdo experimental que durou dois números.
O último fanzine produzido por Sine foi o Pop Cola, com uma tiragem pequena, uma diagramação simples e que logo ficou de lado. Já não existiam tantos leitores de fanzines como no passado e fomos distanciando desse meio. O Sine já estava se dedicando mais a banda e ao trabalho.
(GUSTAVO FIORI GALLI)
Desenhar fazia muito bem pra ele e foi um alento nesses últimos anos. Ele fez uma série linda de cartazes inspirados em bandas e letras de músicas, de Ride a The Cure, algo que ele mostrou pra gente, impresso, em nosso último encontro em novembro.
Tomar uma cerveja com os amigos e falar sobre música era outra coisa que o deixava feliz. Sempre que nos encontrávamos, nos ensaios ou churrascos ou viagens como banda, 95% do tempo o assunto era música – os outros 5% falávamos de filmes, de arte, de ilustração. E a gente sempre discordava numa série de coisas sobre música… passei anos tentando convencê-lo que The Clash era legal ou que Pink Floyd tinha umas coisas lindas. Mas segundo ele “só gosto do ‘Piper’, o resto é chato”. E tem as coisas que ele não gostava muito, tipo tocar ao vivo. A gente era muito pilhado pra tocar, mas ele não era tão afim.
mais no Instagram do Sineval, ainda no ar
PALE SUNDAY
(DANI RAMOS)
Talvez o Gustavo já tenha dito tudo, mas tenho alguns releases e entrevistas que contam um pouco a história da banda.
Parece que ele teve uma banda cover no colegial, formada para participar de um festival. Não sei mais detalhes, mas o Gustavo pode complementar. Sineval era guitarrista, compôs várias letras e músicas e fez todas as capas dos discos lançados. O grande sonho dele era que a banda fizesse uma turnê pela Europa.
(LUIZ GUSTAVO DE PAULA)
Posso fazer um resumo.
Por volta de 1996, eu e o Sineval tivemos a ideia de montar uma banda. Ainda sem nome ou proposta sonora. Convidamos mais dois amigos que tiveram uma passagem bem breve: o Márcio Destito e o Alberto Mendes.
Nessa época, era comum gravar os ensaios em fitas K-7. Em 1997, conhecemos o Fabrício Cantoni, um cara que já tinha experiência com bandas e estava começando a trabalhar com produção musical. Em 98, em um encontro que tive com ele, apresentei uma das músicas que havíamos gravado e ele mostrou interesse em produzir.
No mesmo ano, já sem a participação do Márcio e do Alberto e sob a produção do Fabrício, gravamos uma demo-tape de 2 faixas com o nome de “Dreamscape“. Divulgamos esse material em 1999. As músicas eram bem simples e inocentes, e a qualidade de gravação não era muito boa.
No ano seguinte, entramos em estúdio para gravar um EP de quatro faixas, com o título de “Everything Starts When You Smile“. O Sineval enviou esse material para diversos selos fora do país. Para nossa surpresa, a americana Matinée Recordings demonstrou interesse em lançar nosso trabalho. Então, o Fabrício entrou de forma definitiva para a banda, e agora como um trio, gravamos mais uma faixa de nome “A Weekend With Jane” (matinée049) que também seria o nome do EP que saiu pela Matinée em 2003.
No mesmo ano, participamos de uma coletânea chamada Matinée 50 e em 2004 participamos de um tributo aos Smiths, “Romantic and Square is Hippy and Aware” (matcd030) fazendo uma versão da faixa “I Know It´s Over”. Em 2005, lançamos nosso primeiro disco, “Summertimme?” (matcd037).
Após o lançamento do disco, o Fabrício saiu da banda e vivemos um hiato de dois anos. Em 2007, convidamos os amigos Tiago Fuzz (guitarra) e Gustavo Galli (bateria) para se juntar a banda. Nesse período, a banda fez alguns shows e começou a compor novas músicas.
Em 2010, no mesmo ano em que o Sineval foi morar em Londres, lançamos o EP “Shooting Star”. Com a volta do Sineval em 2011, entramos em estúdio novamente para gravação do EP “The Fake Stories About You And Me“, que foi lançado em 2012.
No ano de 2013 participamos de mais uma coletânea da Matinée, “A Sunday Matinée” com a faixa “In The Hardest Moment”. A banda fez sua última participação pelo selo Matinée, gravando a faixa “Dirt Pitch Superstars” para o EP “The Official Matinée World Cup“, lançado em 2018.
Ele tocava guitarra, compunha e fazia toda a arte gráfica. Era como o motor da banda.
(MATINEE RECORDS)
(do Facebook, 2012) Did I ever tell you that I was in Seattle for work a few years ago and Charles from Math and Physics Club picked me up to go to a coffee house and while we were in the car KEXP played Pale Sunday? I think it was around the time of the album so it may have been The White Tambourine? It was very cool…
(GUSTAVO FIORI GALLI)
Minha primeira memória do nome “Sineval” remonta aos agradecimentos do “Reaching for Balloons” da Low Dream. Era a época que ele estava envolvido com fanzines, certamente era mail mate dos caras da banda.
Em 2002 eu apresentava e produzia, junto com mais 3 amigos, um programa de rádio chamado Studio Eleven, em uma rádio educativa ligada à Universidade de Franca, em Franca (SP), cidade que fica a cerca de 90 quilômetros de Ribeirão Preto. Um dos amigos que apresentava o programa comigo, Newton, um dia apareceu dizendo que ia tocar uma banda de Jardinópolis no programa. Não levamos a sério, achamos que devia ser algo nada a ver. E foi aí que conheci o Pale Sunday, através de “The Girl With Sunny Smile“.
Foi amor à primeira audição. Pagamos um pau pra tal banda de Jardinópolis. Nessa mesma época tentei de todas as formas possíveis entrar em contato com a banda, mas os caras não respondiam e-mails. Desisti.
Em 2004, uma comunidade do Orkut chamada “Ribeirão Preto Indie” atraiu um turma muito bacana aqui da região, pessoas com interesse o comum em música. Para minha surpresa, em um dos tópicos estava lá o guitarrista do Pale Sunday e descubro que é o tal do Sineval, o mesmo lá do disco do Low Dream. Começamos a conversar por ali.
Em algum momento de 2004, rolou um show do Jumbo Elektro (!) no SESC de Ribeirão e fizemos um orkontro do pessoal da RP Indie. Nesse dia conheci pessoalmente Sineval, Luiz Gustavo, os caras do PS, além do Tiago Fuzz, que entraria junto comigo na nova formação do PS em 2007.
(LAST.FM)
On february 2007, the band announced they were disbanding and even played a last show, at Penelope Club (Ribeirão Preto, SP). At april 2007 they announced a new line-up, with the additions of Tiago Fuzz (guitars) and Gustavo Az (Drums).
With this new line-up, for the first time in its history, the band have made several gigs on later 2007 and early 2008. Nowadays they are composing the songs for the long awaited new EP.
(GUSTAVO FIORI GALLI)
Durante o hiato do Pale Sunday, entre 2005 e 2007, tinha uma história engraçada de que ele queria montar uma banda glam que se chamaria Sable Starr. Não sei se era verdade, mas lembro de ouvir essa papo algumas vezes e achava um barato.
(LUIZ GUSTAVO DE PAULA)
(em Janeiro de 2019) Ainda não nos encontramos para decidir o futuro da banda. Tínhamos planos de continuar gravando, mas todos esses acontecimentos pegaram a gente de surpresa. Talvez reunir a banda para prestar uma homenagem, gravar uma música de despedida, sei lá, ainda vamos conversar.
(GUSTAVO FIORI GALLI)
(em Janeiro de 2019) Sobre o que vai acontecer com Pale Sunday: sinceramente, não sei. Não conversamos a respeito. Esse ano planejamos gravar um novo disco, levantamos algumas músicas, chegamos a ensaiar… tínhamos em mente como fazer. Mas as coisas não evoluíram como a gente esperava. Como foi dito, ele era a alma da banda e acho muito difícil que a gente venha a fazer algo, sem ele, usando esse nome. Acho que seria muito doloroso pra gente, pra falar a verdade. Por outro lado, a vontade de fazer música persiste e, da minha parte, não me vejo tocando com outras pessoas que não sejam o Luiz Gustavo ou o Tiago. Vejamos como a coisa se desenrola.
(GUSTAVO FIORI GALLI)
Teve uma vez, digna de nota, que a gente foi tocar no Asteroid, o bar dos caras do Wry. Ele tinha acabado de voltar de Londres, fazia tempo que não tocávamos juntos. Ele não tava muito na pilha de tocar. Mas aí a gente foi lá e fez um show bem legal. O equipo e técnica do local eram excelentes e a gente estava numa fase boa, banda afiada, tocando com frequência.
Lembro que a gente saiu do palco, fomos tomar uma cerveja do lado de fora e ele falou, diversas vezes, como aquele show tinha sido bom, que tinha sido especial, que tinha sido um puta show, que a gente tava tocando bem. Ele estava realmente empolgado.
Depois disso, a gente sentou num lounge ali do Asteroid, tomando rodadas de cerveja, e assistindo uns clipes de hip hop recheados de putaria. Falando sobre a banda, sobre o futuro, sobre música… muito louco revisitar essa memória, agora que ele não está mais aqui. Essa é minha memória favorita do Pale Sunday enquanto banda, muito representativa da amizade e do carinho que temos um pelo outro.
GATO DE PANTUFAS
(DANI RAMOS)
O que ele mais gostava de fazer era desenhar, de preferência ouvindo música. O sonho era viver de desenho, sem precisar fazer trabalhos comerciais. Era um sonhador.
Sine criava o tempo todo. Em 2013, para fugir dos trabalhos corporativos e clientes chatos, criamos juntos uma marca de produtos ilustrados. Todas as ilustrações são dele (canecas, pôsteres e mais recentemente almofadas), chamada Gato de Pantufas.
Não houve muito investimento na marca porque o dia-a-dia do trabalho consumia muito tempo. No último ano, ele passou a fazer novos pôsteres, a maior parte deles usando bandas que gostava e com uma linguagem e traços bem diferentes dos trabalhos anteriores.
Trabalhávamos juntos. Montamos uma pequena agência, que ele gostava de chamar de estúdio, a Tinta Comunicação. Esse era o ganha pão, o lado comercial da criação.
(JULIANA ARAÚJO)
Ele chegou a montar uma marca com só desenhos dele impressos, eu tenho alguns na minha casa, de gatos como artistas, tipo Amy Winehouse, Amelie Poulain, Charles Chaplin, David Bowie, Frida Kahlo.
(SONICPAULA)
Sineval desenhou algumas figuras e eh tatuei no braço em 2009. São algumas das minhas preferidas ainda.
DOENÇA
(DANI RAMOS)
Sine teve um câncer de intestino (neoplasia de cólon) descoberto em setembro de 2016. Fez uma primeira cirurgia bem sucedida para ressecar o tumor, mas logo descobriu metástases no fígado e pulmão. Passou por uma cirugia grande para remover quase 50% do fígado, mas as lesões no pulmão não eram cirúrgicas. Encarou também muitas sessões de quimioterapia e muitos efeitos colaterais.
No início, com o susto, teve muito medo, não queria fazer a cirurgia, ficou agressivo, não queria nem ouvir o que os médicos tinham a dizer. Quando eu perguntava detalhes para os médicos ou queria falar sobre o assunto ele dizia: “eu não quero saber, não me conte”. Mas aceitou a doença, acreditava que ele tinha que passar por isso e poderia se curar. Foi positivo durante todo o processo. Evitava falar da doença, poupou os amigos e nunca deixou de trabalhar. Muitas vezes saiu da quimioterapia e foi direto para o escritório. Raramente se queixava ou lamentava. Se ficava desanimado ou triste, saia para caminhar um pouco.
Procurou tratamento espiritual, fazia cirurgias quinzenais, reike toda semana e passou a ler sobre o tema. Deixou vários textos e letras de música.
Em agosto de 2018 quando os médicos disseram que o tratamento não estava mais trazendo resultado positivo, não havia nada mais a ser feito, ele ficou muito abalado. Procurou um tratamento alternativo com um médico iridólogo, passou a fazer auto-hemoterapia, mudou radicalmente a alimentação.
Somente em Dezembro começou a passar mal. Mesmo muito inchado, com dificuldades de locomoção e muito mal estar, trabalhou de casa, contra a minha vontade, até no dia 16/01/2019. Ficou um mês praticamente na cama, na casa dos pais, sem reclamar. Faleceu na madrugada de 24 de janeiro, e felizmente foi internado apenas na véspera, pois não queria ir para o hospital.
Foi forte, guerreiro, resignado, mas a aceitação nunca foi sinônimo de desistir da lutar. Uma semana antes de falecer estava tentando uma vaga no Hospital de Barretos, com muita esperança em um novo tratamento.
(JULIANA ARAÚJO)
Fui rever nossas conversas e em novembro de 2016 ele fez uma cirurgia de retirada de um câncer no intestino. Em abril de 2017 ele fez outra cirurgia para retirada de outro câncer no fígado. Depois apareceram lesões no pulmão.
Ele sempre falava com tranquilidade e fé sobre a doença. Tava evitando todo e qualquer aborrecimento, tava fazendo reiki e buscando estudar o espiritismo, falávamos muito disso. Eu mandava muitos vídeos de bichinhos e textos positivos sobre cura e ele adorava. Falávamos muito sobre isso. Ele era muito introspectivo e tinha muita dificuldade de externar as coisas, mas na medida do possível falávamos bastante sobre tudo.
(SONICPAULA)
Eu nunca soube lidar
(TIAGO FUZZ)
Ele fez tratamento de câncer por alguns anos, sempre encarou e falou disso (entre os amigos) de forma reservada, continuava indo a shows normalmente. Nos últimos 2 meses ele piorou.
(GUSTAVO FIORI GALLI)
Acho que não cabe entrar em detalhes – e o conhecendo, acredito que ele não gostaria desse tipo de exposição. O fato é que o Sine vinha tratando um câncer desde o final de 2016. Lutou pela cura como poucos, sempre sereno e com um sorriso no rosto. Não me lembro dele reclamar de estar vivendo aquilo, mesmo quando contava dos momentos difíceis pelo qual passava. Sempre teve atitudes positivas, acreditou que ficaria bem.
(DANI RAMOS)
Detestava falar a idade, viveu como um eterno menino. Era um grande parceiro, incapaz de fazer qualquer crítica ou comentário negativo sobre alguém.
Eu mesma, nesse processo todo de doença, sem perceber descuidei de mim mesma, ganhei peso e deixei muito da vaidade de lado. Um dia, estávamos dentro do elevador, e ele da maneira mais serena possível, sorriu e me perguntou: por que você não passa um batom? Esse foi o único comentário “não positivo” que ouvi nesses anos todos.