Vou contar uma estorinha rápida.
Estava eu tentando divulgar a compilação “Tropical Fuzz: Brazilian Guitars 1988 – 2018” (sai dia 17 de agosto, nos formatos digital e CD) quando me deparei com o Submit Hub.
O Submit Hub é um site onde artistas, assessores de imprensa ou pessoas como eu (um selo) podem enviar material para mais de 500 blogs e gravadoras do mundo todo. A diferença é que o Submit Hub paga os blogueiros e gravadoras para ouvir o material.
Quem paga? O artista, ou o assessor, ou a gravadora interessada em conseguir espaço nos blogs. Ou ainda, se você for uma banda procurando uma gravadora, você paga para que a gravadora ouça e te dê um retorno.
Em breve eu explico melhor como funciona. Por enquanto, voltamos à estorinha: inscrevi o midsummer madness (o fanzine, esse aqui que você está lendo, e não a gravadora) no Submit Hub. Dias depois, recebi um email avisando que havia material para análise e que o prazo estava se esgotando.
Eram umas 50 e poucas mensagens sendo que mais da metade delas era “premium”, ou seja, eu receberia US$0,50 para analisar o material. No primeiro momento não acreditei mas fui ouvir. Depois explico melhor as regras mas o resultado foi que ao analisar as 25 músicas enviadas como “premium” eu ganhei US$12,50.
E melhor: eu não preciso gostar de tudo. Pelo contrário: o importante é dar um feedback sincero a quem paga, explicando o que você pretende fazer no blog caso goste, ou dando argumentos do porquê está negando. Depois de alguns dias usando, já recebi mais de 360 “submissions” (pedidos de análise) e o perfil do midsummer madness no Submit Hub está assim:
A maioria dos materiais que recebi são de bandas que nunca ouvi falar. Como sempre, tem coisas muito ruins e a maioria é mediana, comercial, óbvia demais. Mas algumas bandas que entraram em contato, pagando ou não, merecem ser divulgadas.
Como eu me comprometi com as bandas e também porque fiquei positivamente surpreso com a qualidade de quem corre por fora do esquemão, resolvi fazer esta lista com o que eu ouvi de melhor. As únicas bandas conhecidas que me mandaram material foram o Whyte Horses e The Molochs. Todas as outras eu nunca tinha ouvido falar. A lista abaixo está em ordem de preferência, ou seja aparecem primeiro as que mais gostei.
Só que de nada adianta eu listar estas bandas se vocês não deixarem o feedback de vocês. Afinal, a intenção é fazer essa ponte e não somente ganhar US$12,50. Então ouçam, compartilhem e deixem opinião. Vai ser incrível poder correr por fora do esquemão junto com vocês.
Qual destas bandas vocês gostaram e querem saber mais? Top 5 ou Top 10 são bem vindos nos comentários.
01) SUBMOTILE
É estranho, a bateria parece que não encaixa. Mas as duas músicas destes irlandeses de Dublin conseguiram chamar minha atenção mais do que qualquer outra banda. O mais maluco é que a banda tem meses de vida, acabou de se formar. Shoegaze de verdade, para quem gosta de Medicine, Slowdive e my bloody Valentine. O EP “We’re Losing the Light” sai em breve.
02) HOBSONS BAY COAST GUARD
Quarteto que se define como variety-surf-psych. O segundo single “Surf 1” é o tipo de música para ouvir surfando em Bell’s Beach depois de tomar um ácido. Uma mistura de Flaming Lips com Beach Boys. Single e videoclipe (muito bacana) gravados com custo zero. Hobsons Bay é uma cidade de verdade perto de Melbourne (onde fica Bell’s Beach). Mas eles não são da Guarda Costeira. E não, o Tatá Aeroplano não toca nessa banda.
03) SOMEHOW
“Hidden Memories” é o 2º álbum do multi-instrumentista francês Erwan Pépiot, saiu em 2017 pela gravadora local TooLong. Segundo Erwan, o 3º disco deve sair em 2019. A voz lembra Magnetic Fields e Jens Lekman. A música é para fãs de Divine Comedy e Kings of Convenience. Fofo num grau…
04) LULU LEWIS
Pablo Martin e Dylan Hundley são de Nova Iorque e tem vários singles lançados no Bandcamp. Pós-punk garage com teclados, meio que um Suicide com Cramps, se parece bastante com B-52’s mais nervoso. Tipo de banda que ficaria bonito numa noite junto com o Autoramas.
05) AUTOMATISM!
Primeiro disco “From the Lake” deve agradar fãs de kraut rock. O quarteto sueco é idealização dos amigos de infância Hans Hjelm e Mikael Tuominen que se juntaram para gravar o mini-álbum com 6 músicas. Comece pelos 12 minutos de “Propeller Propulsion” e depois deixe o disco inteiro tocando numa noite fria. Se você gosta de Neu, Tangerine Dream, Mojave 3.
06) PARROT DREAM
Formada pelos chilenos Christina Appel (voz, teclados) e Gonzalo Guerrero (guitarras), em 2013 em Santiago, a dupla se mudou para Nova Iorque, de onde lança seu álbum de estreia “Light Goes” via Good Eye Records no próximo 24 de Agosto. A influência máxima aqui é Beach House.
07) BONNIE CRIED
Bonnie Cried está na Noruega mas é formado pelo neozelandês Daniel Kittow, o norte americano Bobby McBride, o local Jens Nørgaard e o islandês Andrés Ben. Garage rock tipo Link Wray e Sonics, desacelerado e com cara de trilha sonora de filme noir. Sugiro começar por essa música abaixo. Se você gostar, o single com 5 músicas acabou de sair.
08) JACKIE CHARLES
Jackie Charles é de Berlin mas Kaja Bremnes, a vocalista, é Norueguesa. Essa música estará no álbum de estreia “Future Fantasies”, que foi todo gravado na casa de Rudi Schenker, guitarrista do Scorpions (!?!?). Ouça se você gosta de Bjork, Amber Arcades e Cocteau Twins.
09) GALAPAGHOST
Casey Chandler é de Woodstock, NY (EUA) e lançou em 10 de agosto seu 5º álbum “Sootie”. Casey já foi acompanhou John Grant numa turnê européia em 2010, atualmente mora em Austin, TX. Músicas suas aparecem no filme “Il Ragazzo Invisible” e no vídeo promocional da série “13 Reasons Why”. Mas não é nada muito deprê: “Sootie” é um bom disco lofi eletrônico para deixar tocando naquelas tardes preguiçosas de primavera. Ouça se você gosta de Casiotone For the Painfully Alone, The Postal Service, Peter Bjorn & John.
A belga Marieke De Keukelaere (foto) se mudou para Londres em 2011 e, depois de tocar com algumas bandas, começou a gravar como Calling Blue Jay. Em Novembro de 2017 a violinista lituana Maris Peterlevics entrou para o grupo. O álbum “Indigo Dreams” será lançado em Novembro deste ano. Ouça se você gosta de Cat Power, Beth Gibbons e Kate Bush.
11) HYPOCRITE IN A HIPPY CRYPT
O nome desta banda do Colorado é ruim, um trocadilho juvenil. Mas o 4º disco deles, “Vegas of Feelings” é um misto de Stone Roses subproduzido com Teenage Fanclub usando bateria eletrônica. Eles se dizem altamente influenciados por Elliot Smith… não achei.
12) BLACKHILL
existia uma banda chamada Snovi, que acabou. Dai um misterioso integrante decidiu gravar usando o codinome Blackhill. Até agora são 4 músicas, sempre numa versão de estúdio onde ele toca todos instrumentos e uma segunda versão ao vivo com músicos da região de Pula, na Croácia, onde Emil vive. Se você gosta de Pink Floyd, Echo & The Bunnymen e Killing Joke.
13) NIGHT BEACH
Joel Miller tocava em bandas punk de Atlanta quando resolveu gravar músicas em seu quarto. O resultado é o álbum “Bed” que fala sobre insônia. Ouça se você gosta de Yo La Tengo, Magnetic Fields, Boyracer. Ele garante que ainda gosta de punk rock mas a leveza destas músicas faz o gosto antigo parecer um sonho distante.
14) WARRENDER CHASE
A voz lembra Paul Weller e Pulp e o instrumental vazio, estranho de “All For Nothing” garantem um ar amador charmoso para esse trio do Brooklyn. Aqui e ali teclados anos 80 combinam com a capa caseira do álbum de estreia “Ghost Receiver” que será lançado dia 24 de agosto. E a batida do começo parece “A Chicken With Its Head Cut Off” do Magnetic Fields.
15) SUNBATHER
Projeto solitário de Durham, Carolina do Norte. Boa intenção à la DIIV e tentativas de guitarras à la ‘Well I Wonder” do Smiths no single abaixo. Álbum intitulado “Melancholy Daze” sai dia 17 de agosto.
16) NEMO
O Nemo Breukhoven, é holandês, tem 21 anos e toca numa banda chamada The Surfing Stingrays. Ele acha que a gente fala espanhol no Brasil. Ele montou um pequeno selo chamado Outpost Records com 5 artistas. Só que no bandcamp da Outpost não dá pra saber quais são estas cinco bandas. De qualquer forma, pode agradar quem gosta de Orange Juice, Magnetic Fields e Casiotone For the Painfully Alone. (O Nemo pede para avisar que ele acha parecido com Hockey Dad e Peach Pit).
17) WILD WILD WET
Quarteto de San Diego que parece uma mistura de Franz Ferdinand, Gene Loves Jezebel e The Mission. Eles devem ter ficado bem chateados quando eu falei isso porque se dizem influenciados por garage rock. Pode ser, mas eu citei as bandas acima como elogio. As guitarras lembram de leve Thee Hypnotics. O álbum de estreia “Prisom” saiu em julho.
18) GULLS
Trio punk-pop de Brighton, capitaneado pela poeta feminista Rhi Kavok. O single “Flaws” é o primeiro do EP “Weaponise Authenticity EP” que será lançado no final de setembro. O primeiro álbum deve sair no começo de 2019. Ouça se você gosta de Bikini Kill, L7 e Sleater Kinney.
19) GROUP PHOTOS
De San Bernardinho, Califórnia. Lembra (de novo) Casiotone For the Painfully Alone querendo ser The National. Lembra também The Walkmen se este fosse gravado de forma caseira.
20) GRAND SUN
Quarteto de Lisboa, com sonoridade sessentista, à Byrds, Love, The Thrills. São portugas mas cantam em inglês. Álbum “The Plastic People of the Universe” sai dia 28 de setembro.
Dignos de nota:
Canches – trio formado por um inglês, um canadense e uma espanhola que trabalham na Guatemala. Talvez agrade quem gosta de Magic Numbers. Achei mediano Link.
KellyMarie – compositora de Dallas, com três singles lançados, preparando um EP. Produzida demais para mim mas ela tem uma voz que deve agradar quem gosta de Adele, Lorde, essas coisas. Link.
Mies Fielman – de Nova Iorque, lançou esse disco em 2017, uma colagem psicodélica de surf, folk e lo-fi eletrônico. Um Ariel Pink misturado com The Avalanches caseiro.