The Fall é uma das minhas bandas favoritas. Em 1989 eu tinha 17 anos e já era fã da banda. Naquela época a Fluminense FM tocava clássicos como “Cruiser’s Creek” e “Hey! Luciani” na sua programação normal (não é incrível isso?), e também acho que o “Bend Sinister” já tinha sido lançado por aqui. Eu também tinha várias fitas com outros discos gravados dos amigos. Então, um show deles no Rio seria imperdível.
Fui paramentado com câmera fotográfica (tirei algumas fotos) e também um gravador made in Paraguai para gravar o show, que acabou ficando bem ruim.
A primeira surpresa é que os ingressos eram vendidos por mesas! Sim, a pista do Canecão estava repleta de mesas e cadeiras. Assisti o show sentado na segunda mesa perto do palco.
O show começa com uns barulhos de latas ou panelas batendo enquanto a banda ia entrando. Mark entrou por último com cara de poucos amigos e cheio de folhas de papel na mão. Eram as letras das músicas que ele ia lendo enquanto cantava.
A segunda surpresa, cade a (guitarrista) Brix Smith? Depois do show rolou uma fofoca que o Mark estava puto porque a Brix havia saído da banda e se separado dele também. Pelo que me lembro, a formação era a mesma do “Frenz Experiment”, sendo que no lugar da Brix estava o guitarrista Martin Bramah, que já tinha tocado na primeiríssima formação da banda, em 1978.
O repertório foi baseado no disco “Extricate” que ainda seria lançado. Lembro que músicas como “I’m Frank” e “Bill Is Dead” foram tocadas. A banda estava séria e compenetrada, tocando de modo bem profissional, sem muita interação com o público. Talvez por não esperar encontrar uma plateia sentada e com certa apatia. Mas mesmo assim, o show foi muito bom. Se não me engano não houve bis. A banda se retirou e as luzes foram acesas.
Em 2005 tive a oportunidade de assistir a outro show deles em Londres, num lugar chamado The Forum, em Kentish Town. Cheguei cedo, pois não tinha ingresso, e os cambistas já estavam vendendo ingressos 3 vezes mais caro que o normal, que custava 18 libras, se não me engano. Mas resolvi entrar e perguntar se ainda tinha ingressos e o cara lá, não sei se achou exótico um brasileiro estar ali, me deixou entrar e o ingresso foi apenas um recibo de papel com o valor impresso!
Fui para a arquibancada e logo a “banda” de abertura começou. Era uma apresentação do poeta John Cooper Clarke recitando seus poemas. Eu até entendo um pouco de inglês, mas ele falando lá eu não entendia nada. Depois de um tempão começou o show. O som estava ótimo e a banda bem pesada. E pude reparar como o Mark era chato, toda hora mexia no volume dos amplificadores, saia do palco ou brincava no teclado. Mais uma vez o repertório era o do disco do momento, e no final, dessa vez teve bis, com a única música antiga da noite, “Mr. Pharmacist”.
Continuei acompanhando o a carreira do Fall, vendo vídeos dos shows ao vivo e eles continuavam sendo bem legais. É uma pena que o Mark se foi cedo, mas seu legado e sua extensa obra vão continuar para quem quiser se aventurar pelo mundo maravilhoso e assustador deles.
por Marcello Braga
obs.: a foto acima foi tirada pelo Marcelo mas em Londres, 2004. O Marcello fez essa playlist com um Fall menos óbvio e ainda assim bastante influente