Quarto álbum do contador de estórias de Gotemburgo (Suécia), “Life Will See You Now” é mais ensolarado que os discos anteriores. Quatro anos depois de “I Know What Love Isn´t”, Jens Lekman parece ter viajado ao Caribe nos anos 80 para produzir este novo disco. Da abertura com “To Know Your Mission” até a 10ª faixa, o clima é quente e dançante, com samplers, baterias eletrônicas e até steel drums (tambor jamaicano muito usado no reggae). Quando Jens começou a divulgá-lo, a primeira música foi “What´s That Perfume That You Wear” em videoclipe. Basta ler a maioria dos comentários e ver que o fãs pediam que ele não abandonasse seu “estilo” neste novo disco.
Não adiantou. Jens já era pop antes, mas contava suas estórias com uma roupagem mais escandinava que é apenas lembrança em “Life Will See You Now”. Mas não ficou ruim… o disco começa com um quase manifesto onde ele diz que “I write songs sometimes / But they’re kinda bad / So if that doesn’t work out / I want to be a social worker just like my dad / I just want to listen to people’s stories / Hear what they have to say” (Escrevo músicas às vezes / Mas elas são meio ruins / Então, se isso não funcionar / Eu quero ser um assistente social igual meu pai / Eu quero ouvir as estórias das pessoas / Ouvir o que elas têm a dizer), enquanto se pergunta qual é a sua missão e concluir que ele, Jens, está aqui para servir você, ouvinte.
Com coração aberto, na música seguinte, “Evening Prayer”, apesar de cantar sobre um tumor, a batida à la Pet Shop Boys “Domino Dancing” é acompanhada de tchu-tchu-tchuru´s que vão te lembrar a banda Aqua. Estas duas primeiras faixas contam com a participação em backing vocals da cantora de soul sueca Loulou Lamotte. Na música seguinte, agora acompanhado de Tracey Thorn do Everything But The Girl, o clima é justamente esse, de uma música do EBTG em 1996 (lembra de “Missing”?). Tracey conta uma estorinha sobre o irmão eletricista e pede a Jens: “If you’re gonna write a song about this then please don’t make it a sad song” (Se você for escrever uma música sobre isso por favor não escreva uma música triste). Uma coisa é certa: mesmo que você não goste da música, é bom demais ouvir Tracey novamente.
A quarta música é exatamente a do primeiro videoclipe: começa parecida com “Islands” do Whitest Boy Alive até entrar o steel drum (jamaicano) e você sair da festinha indie e parar numa reggae night, com falseto e eco nos vocais. A letra é puro Jens Lekman, a melhor música do disco que poderia entrar facilmente num top 10 do sueco.
Se você discorda totalmente e sente saudades do velho Jens, não continue a ouvir porque “Our First Fight” e “Wedding in Finistère” seguem o padrão: letras sobre dores e fraquezas mas com instrumental caribenho e até batuques à la calypso (o ritmo, não a banda). “Wedding in Finistère” vale pela letra sobre um casamento para o qual Jens foi chamado para tocar (fica sempre o mistério: será que isso aconteceu realmente?). Antes do casório, ele e a noiva conversam sobre grandes decisões da vida. Durante o casamento, ele canta “You´re The Light” e conclui : “Oh, please, distract me / From every life unlived / Every path I haven’t taken / The heart’s still a little kid” (oh, por favor, me distraia / de cada vida não vivida / cada caminho que eu não tomei / o coração é ainda uma criança pequena).
Se você já tinha abandonado o álbum novo do Jens, o azar é todo seu, porque vai perder a 2ª melhor música do disco, e também postulante ao top 10 do rapaz, a disco “How We Met, Long Version”. Pelo que parece, essa música nasceu na saga “Postcards” quando Jens decidiu lançar uma música nova toda semana, em 2015. Em 18 de julho daquele ano, Jens usou a base de “Dancing” de Jackie Stoudemire para fazer seu Postcard #29. A música evoluiu para “How We Met, Long Version”, com uma seção de sopros original de Jens, que a deixou ainda mais dançante, um “Leme ao Pontal” sueco, com uma letra fofíssima de como dois amantes se encontram.
“How Can I Tell Him” é para entrar na sequência de “A Postcard to Nina”: a letra pergunta como ele deveria dizer ao melhor amigo que o ama; avalia como a geração de homens que o antecedem dificulta tanto as coisas, para um final de partir o coração. “Postcard #17” é quase a mesma que aquela lançada na saga de 2015, e, junto com “Dandelion Seed”, compoe o trio final de canções mais lentas que deve agradar aos fãs da 1ª fase de Jens Lekman.
Os ritmos ensolarados do começo do disco podem te assustar, mas não desista: “Life Will See You Now” é mais um ótimo disco do Jens Lekman.
Quarto e mais recente álbum do trovador sueco, que agora resolveu contar suas estorinhas de dor e amor com roupagem mais caribenha. Um desafio aos indies mais frígidos, mas ainda assim um bom disco!