Em seu aniversário de 40 anos, o selo Mute Records vai lançar uma caixa com 50 versões da música “4:33” de John Cage, executada por artistas do seu catálogo. Se 50 versões da mesma música já parecem algo extraordinário, fica ainda mais curioso por se tratar desta peça de John Cage.
Você deve conhecer a composição “4:33” do compositor norte-americano John Cage.
Não?
“4:33” foi composta em 1952 e são exatos 4 minutos e 33 segundos de silêncio. Ouça/veja:
Quando Cage criou a música, as instruções eram que a mesma poderia ser executada para qualquer instrumento ou combinação de instrumentos (no caso acima, um piano) e que o intérprete não deveria tocar o instrumento durante toda a duração da peça, dividida em três movimentos. A ideia é que “música” seria os sons do ambiente.
O que pode parecer uma grande piada, na verdade não é. Quando Cage propôs a música, ele estudava como o silêncio interferia na música, influenciado pelo Budismo e tentando provar seu conceito de que tudo é música. “4:33” foi mostrada ao público pela primeira vez em Agosto de 1952, quando o pianista David Tudor, executou os três movimentos da peça num Recital de Música Contemporânea em Woodstock (EUA).
Em 1962, John Cage fez uma nova versão de “4:33” intitulada “0:00” onde a diferença era que os movimentos deveriam ser executados com máxima amplificação dos instrumentos. Em 1989, a última versão criada pelo próprio Cage se chamava “One3” (one elevado a 3ª potência). Nessa versão, o local onde a peça seria executada deveria ter um sound-system montado funcionando à beira do feedback, mas sem emitir feedback algum.
Além das versões do próprio John Cage, a peça já foi interpretada por Frank Zappa (em “A Chance Operation: The John Cage Tribute”), pela banda sueca Covenant, pelo Living Colour (no álbum “The Chair in the Doorway”) e, em 2004, a BBC Symphony Orchestra executou a peça ao vivo, veja:
Agora, a Mute Records vai lançar a caixa STUMM433 com artistas de seu catálogo como The Normal, Káryyn, Depeche Mode, New Order, Erasure, Moby, Goldfrapp, Miranda Sex Garden, Yann Tiersen, Afghan Whigs, entre outros, dando as suas versões da peça de John Cage.
Os lucros da venda do lançamento, disponível em vinil a partir de 16 de agosto, serão divididos entre a British Tinnitus Association (você sabe o que é Tinitus?) e a Music Minds Matter (instituição de apoio a músicos com doenças mentais e de fundo psíquico, e também uma homenagem ao falecido baterista do Inspiral Carpets, Craig Gill).
Antes que você vá embora, mais um ponto interessante sobre “4:33”: antes de compor a peça, em 1951, Cage visitou uma câmara anecóica na Universidade de Harvard. Segundo Wikipedia, “uma câmara anecóica é uma sala projetada para que as paredes, o teto e o piso absorvam todos os sons produzidos na sala em vez de refletí-los“.
Ao experimentar a tentativa de silêncio, Cage relatou ter ouvido dois sons, um agudo e um grave, que o engenheiro responsável descreveu como sendo, respectivamente, o som do sistema nervoso de Cage em operação e o som de seu sangue em circulação. Ou seja, Cage tinha ido a um lugar buscando total silêncio mas ainda assim ouviu sons. Após a experiência, ele teria declarado: “Até eu morrer, haverá sons. E eles continuarão após minha morte“.
Na impossibilidade do silêncio, Cage escreveu “4:33”.