Os editores dos grandes jornais brasileiros viveram um dilema no momento da montagem da primeira página da edição do último domingo (08/04/2018). Estampar uma foto do Lula sendo carregado nos braços do povo ao fim do seu discurso no sindicato dos metalúrgicos ou uma foto do Lula acompanhado dos policiais a caminho da prisão? Os dois fatos são históricos e têm grande relevância jornalística. Nunca antes na história desse país um ex-presidente foi preso por um crime comum. Mas também nunca antes na história desse país uma pessoa foi carregada para a prisão nos braços de milhares de pessoas.
No ambiente polarizado que vivemos hoje, a escolha indicaria uma tendência editorial e política. Afinal, a esquerda queria a foto de Lula no meio do povo, e a direita, a foto de Lula abatido a caminho do cárcere. Qual usar? O Globo, O Estado de São Paulo e O Correio Braziliense escolheram a imagem de Lula escoltado por policiais. A Folha de São Paulo optou por Lula cercado pelos militantes, ao fim do discurso no sindicato. (Confiram essas e outras capas aqui)
Se quisessem parecer “isentões”, novo termo para chamar de “imparcial”, característica cada vez mais difícil de se ter no Brasil hoje, melhor seria publicar ambas as imagens na primeira página.
Mas a melhor foto não apareceu na capa dos jornalões brasileiros. Foi esta que publico aqui, tirada pelo jovem fotógrafo Francisco Proner, do coletivo Farpa. Um garoto de 18 anos que já ganhou uma série de prêmios de fotografia e tem um trabalho expressivo, apesar do pouco tempo de vida. É esta foto que estará nos livros de história e é dela que os brasileiros vão se lembrar quando recordarem esse episódio. E tudo graças, quem diria, às redes sociais, não à grande mídia. Podem me cobrar daqui a 30 anos.
por Fernando Paiva
P.S.: Conforme alguns amigos apontaram nos comentários, essa foto do Francisco Proner foi usada por grandes veículos estrangeiros, como The Guardian e The New York Times. Pelo visto, vai povoar a memória dos gringos também.
Fernando foi guitarrista da banda Luisa Mandou um Beijo, atualmente toca em A Última Peça, e também é editor na Converge Comunicações
A foto que os jornais não mostraram é a esperança que ficará para os livros de história