Apesar de entender um pouco das coisas, de achar que com certa idade nada pode mais me tirar do lugar no aspecto musical e acreditar nas palavras do filósofo Marcus Rogério Salgado “música depois de um certo momento passa a ser pesquisa e lembrança, afinal sua mente está formada“, posso declarar que estou em posição fetal escutando “The Ecstatic Music of Alice Coltrane”, um disco que no alto da minha jovem velhice parece surgir de um fita K7 guardada em minha pineal.
A não ser que você seja um dos seguidores da mulher, você nunca teve acesso a isso e todos sabemos que a obra de Alice (incrível por excelência) sempre foi um apêndice do seu maridão, um tal de John Coltrane. Dona de verdadeiras obras primas lançadas nos anos 70, esta compilação feita com K7s vendidos apenas para participantes do seu fiel séquito é um passo tão profundo que apenas em 2017 isso poderia ser relançado e ter esta ressonância
O tempo tem destas coisas.
Ao contrário do jazz de outros tempos, onde a harpa e o piano prevaleciam, esta compilação é uma virada de mesa com synths tomando conta e sua voz única em uma mistura inédita de espiritualismo indiano e soul.
Pode ser que tanta espiritualidade e positividade não caia bem em plena sexta feira, com a mente varrendo os cantos mais obscuros da sociedade em busca de prazeres imediatos, mas faça um favor: guarde este disco na playlist “recomendados pelo midusmmer madness” para a hora certa.