Antes de começar a escrever sobre o filme “Ladybird” preciso dividir uma neura com vocês. Tem sido mais difícil que eu imaginava tocar esse fanzine. Não é falta do que falar, pelo contrário. A maior dificuldade é achar o tom dos textos, se deveria ser um vômito das coisas que estou vendo/ouvindo/pensando, num esquema meio diário, ou se, depois de tanto tempo trabalhando com isso, deveria fazer textos mais cuidadosos, apurados, jornalísticos.
O que vocês acham? (Sugestões nos comentários)
A dúvida me coloca num estado estacionário. Entre publicar um texto mais pessoal, ligeiro, ou trabalhar um conteúdo mais aprofundado, extenso, ultimamente eu não tenho feito nenhum dos dois.
Talvez a maior qualidade de “Ladybird” seja essa: te deixar com aquela nostalgia da adolescência, quando tudo era mais sofrido, mais urgente, mais emocional.
O filme é de Greta Gerwig, atriz, roteirista e também diretora com “Greenberg”, “To Rome, With Love” e “Jackie” no currículo. Curioso descobrir que Greta começou sua carreira atuando em filmes Mumblecore, gênero que eu nem sabia que existia mas adorei de cara ao ler a definição que está na wikipedia: “sub-gênero de cinema alternativo caracterizado pela atuação naturalística, diálogos em sua maioria improvisados, produção de baixíssimo custo, ênfase no diálogo em vez da trama e na maior parte das vezes focado nas relações pessoais“.
“Ladybird” me lembrou “Boyhood” (de Richard Linklater, 2014) e “Califórnia” (de Marina Person, 2015), que são dois filmes que eu gosto muito, que passam a mesma sensação de nostalgia e que, tchram, estão listados como mumblecore.
Subgêneros à parte, “Ladybird” conta a estória de Christine (Saoirse Ronan), uma adolescente que prefere ser chamada de Ladybird, que está em seu último ano de colégio, enfrentando o início da vida adulta e todas as escolhas que você tem que fazer quando seus hormônios menos te ajudam a raciocinar direito.
Eu poderia contar a estória do filme mas basta você se lembrar do seu último ano de escola para saber que o filme é bom. Você lembra das frustrações amorosas ou da primeira vez que você transou? Lembra como sua relação com seus pais (escolha um, o outro era bonzinho ou ausente) era complicada? Lembra da agonia que dava pensar “putz, agora é sério, eu tenho que ganhar a vida“? Lembra (ou relembra já que você tinha esquecido) quais eram seus amigos que você jurava que eram pro resto da vida e que hoje você nem sabe aonde estão? “Ladybird” tem tudo isso. Dá pra chorar, dá pra rir, dá pra se sentir vivo.
Parece também que é um filme semi-autobiográfico da diretora Greta e por isso, ao mesmo tempo, um declaração de amor à sua mãe (pronto, dei spoiler).
O filme talvez só não chegue mais perto de uma nota máxima porque a trilha sonora é fraca (Christine só ouvia “greatest hits”). Mas fora isso, é um filme que você tem que ver, ponto final. (E seria deste jeito que eu terminaria o texto para o fanzine midsummer madness em 1991, feito na máquina de escrever, sem muita chance de corrigir o fluxo de ideias, com a cabeça fervilhando e o coração cheio).
Ladybird comparado a outros filmes
Filme sobre uma menina que se despede da adolescência pode te ajudar a resgatar algumas coisas que são importantes que, sei lá porque, você esquece. Tipo escrever um fanzine.